Baseado em fatos reais: a história por trás de “Justiça Seja Feita”
Associado do TRT3, Mauro Alvim, se inspira na vida da esposa ao escrever romance.
Na atmosfera da pequena cidade de Iguatama, no oeste de Minas Gerais, uma história de resiliência e superação ganha vida nas páginas do romance “Justiça Seja Feita”, de Mauro Alvim. Imbuído pelo espírito de força, luta e resistência feminina, o servidor do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (TRT3) mergulha nas complexidades sociais, culturais e políticas de uma mulher determinada a quebrar estereótipos e lutar por justiça.
O ponto de partida para a narrativa foi a jornada de superação e empoderamento vivida por Marina, esposa de Alvim, uma mulher que desafiou as expectativas impostas pela sociedade conservadora da cidade natal, de apenas 8 mil habitantes. Após se formar em Direito,”ao caminhar pelas ruas de Iguatama, ela era parabenizada pelos habitantes por sua vitória”, partilha Alvim. No entanto, essa celebração era um contraste gritante com as calúnias e difamações que Marina enfrentou no passado.
“Ela que, quando jovem, fazia o colegial na cidade de Arcos, distante 20 km da sua cidade, foi acusada de estar se prostituindo e até proibida de entrar na igreja. No entanto, um exame médico-legal comprovou sua virgindade, nada do que o povo a acusava. Desta forma, ela decidiu deixar Iguatama e veio para Belo Horizonte onde terminou seus estudos, passou no vestibular da Escola de Direito Milton Campos e começou a trabalhar num escritório de advocacia.”
Caçula de 15 filhos, filha de roceiro, Marina desafiou o mundo pré-definido imposto para as mulheres daquela cidade: de se casar, gerar filhos e ser dona de casa. “Ela quis ser diferente das irmãs, viver na cidade grande, se formar e ter uma profissão, nada de querer depender de marido, mas não conseguia se mudar da cidade pois, na mentalidade daquele povo (de seus pais inclusive) garota que saía do interior para a cidade grande acaba virando prostituta. Ela provou exatamente o contrário”, diz Alvim com orgulho.
“Quando ela me contou esta triste passagem em sua juventude e depois de ver a mulher cheia de moral que retornou à sua cidade, logo me inspirou que este plot [enredo] daria um excelente romance”.
O livro não se limita apenas a contar uma história, é um mergulho nas questões sociais e políticas que moldam nossa sociedade. Inspirado por sua experiência pessoal e profissional, Alvim constrói uma narrativa que aborda de maneira contundente o abuso de poder e a incessante busca por justiça.
“Nos tempos em que trabalhei no TRT, fui datilógrafo de audiência e estava sempre ao lado de juízes que não se deixavam esmorecer ao aplicar a lei e a razão.” Essa vivência proporcionou a ele um olhar privilegiado sobre o sistema judiciário e o funcionamento da justiça.
Ele destaca o impacto de figuras como o Dr. Alaor Satuf Resende, um juiz austero dentro da vara, mas um amigo compassivo fora dela. A determinação e integridade desses juízes inspiraram Alvim a criar a protagonista de seu livro, uma promotora de justiça determinada a enfrentar os abusos de poder.
“Não sei se sou mais uma voz clamando no deserto, mas nunca é demais protestar e por a boca no trombone ao falarmos das injustiças e da impunidade que ocorre nesse mundo afora.” O autor não hesita em abordar questões delicadas, como a impunidade que permeia muitas sociedades, incluindo o Brasil. Ele ressalta a importância de expor e confrontar a injustiça, independentemente das circunstâncias.
Ficção x realidade
Ao desenvolver os personagens e eventos do livro, Alvim teve o cuidado de equilibrar a linha entre ficção e realidade.
“Quanto à narrativa contemporânea e relevante para o contexto brasileiro, o autor deve escrever sua obra dentro da realidade que ele vive. Se alguém quiser se aventurar a escrever um livro ambientado no Vaticano (por exemplo), deverá fazer uma extensa pesquisa, principalmente para retratar o vocabulário dos seus personagens. Conselho que me foi dado também pelo romancista Javier Moro que é especialista em contar histórias reais”, compartilha Alvim, destacando a complexidade do processo criativo.
Além disso, o autor reconhece a influência de clássicos como “O Conde de Monte Cristo” em sua obra. “Eu não tive a menor intenção de adaptar este clássico romance, aconteceu e depois cheguei à conclusão de que os objetivos dos protagonistas eram semelhantes.
O livro “Justiça seja feita” pode ser comprado pelo site da livraria.
Sinopse
Este é um romance dividido em duas fases:
Na primeira, veremos a história de uma família que exerce o poder político numa determinada região do interior de Minas Gerais. Poder este que vai se bifurcando e que tem como estopim quando dois filhos de chefes políticos disputam o corpo de ninfeta de uma garota humilde. Nenhum vencedor, a garota vai embora da cidade. Depois de diversas intrigas, a primeira fase terminará no seu clímax, exatamente quando uma das facções políticas vence a outra nas urnas, e a perdedora promete não dar trégua.
Na segunda fase, vinte anos depois, a história vai girar em torno daquela garota humilde que retorna à cidade como Promotora de Justiça, agora uma mulher madura e experiente que vem para derrubar ambas as facções poderosas que tentaram fazer dela uma prostituta e acaba criando um terceiro poder.
O enredo foi inspirado em fatos reais e baseado no clássico romance “O Conde de Monte Cristo” (Alexandre Dumas).No entanto, o que se verá aqui será um Monte Cristo de saias.
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