Selecionada em concurso de poesia, servidora do TRT2 participará de antologia poética

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A servidora aposentada do TRT2, Maria Alice Gurgel do Amaral, publicará uma de suas primeiras criações, após ser premiada no concurso “Poesia Livre” de 2017 da Editora Vivara. Maria Alice conta que o poema,”Hoje eu fiz o mundo parar”, é “o texto de maior arrebatamento”, entre tantos que escreveu. O poema surgiu quando ela ainda trabalhava em Campinas, no TRT15, e atuava como oficial de justiça avaliador.

Com duas graduações, em Direito e Jornalismo, doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado na Universidade de Sorbonne, na França, ela sempre encontrou uma maneira de aliar os estudos, o trabalho, família/amigos e a criação poética. Ela se considera uma “aprendiz modesta de artesã da poesia” e explica que os textos aparecem “espontaneamente, e não levam mais do que alguns minutos para serem anotados. Esses versos vivem junto comigo e com meus sentimentos. Parece-me que representam um modo de sentir o mundo, que transcende puramente o ambiente que me rodeia.”

“Sinto também que essa rotina exigente na qual todos estamos inseridos, não me exaure a ponto de me retirar da magia da vida e da poesia. Pelo contrário, o movimento da vida sempre me arrebata, me tornando refém de uma dimensão menos concreta, e consigo compatibilizar o dia a dia e a transcendência da experiência de escrever”, disse.

Para ela, apesar de não ter uma disciplina para escrever e preferir deixar a criação fluída, a escrita poética sempre fez parte do seu mundo particular. “Não tenho trajetória de expressão poética, porque escrevo há muitos e muitos anos, mas a criação pura e simples desses textos me bastavam; eram apenas para mim. Sempre significaram uma força, que irrompe no meio do dia ou da noite, de situações boas ou más, no campo ou no mar, no trabalho ou no lazer. No entanto, nunca havia participado de nenhum certame ou concurso de poesia, porque o ato de escrever, selecionar e organizar os textos, era suficiente. Eu, simplesmente, precisava e preciso deles.”

A poeta Alice também destaca a leitura como uma dimensão fundamental em sua vida, e cita as referências que fazem e fizeram parte do seu cotidiano, com destaque para alguns franceses, já que ela viveu um tempo em Paris e encarou de perto várias referências presentes nas obras. Entre suas primeiras leituras, antes de conhecer a cidade, ela indica os autores franceses clássicos: Victor Hugo e o romance “Les Miserábles” (Os Miseráveis), Honoré de Balzac e sua obra “Eugénie Grandet, Le pére goriot” e Gustave Flaubert com sua “Madame Bovary”.

“Desde cedo exerceram uma sedução no meu imaginário sensível e contestador. Esse appeal pela literatura francesa, que, segundo minha ótica, é marcada pela densidade e depressão, talvez tenha coincidido com o meu jeito de sentir e de observar o mundo e a alma humana. Não se pode esquecer de mencionar também A?lbert Camus, autor de ‘A Peste’ e ‘O Estrangeiro’”, afirmou.

Entre os poetas, ela cita Cecília Meirelles, “que é, em minha opinião, uma autora sagrada, e cujas poesias carrego sempre em todas as minhas viagens, sejam curtas ou longas; Manuel Bandeira, com sua delicadeza e tristeza incontrolável; Ferreira Gullar, que li pouco, mas me marcou muitíssimo, e o doce e rústico Manoel de Barros, poeta de Mato Grosso, que faleceu em novembro de 2014, aos 97 anos”, disse. “Na atualidade, posso indicar como minha preferência em prosa estrangeira, o autor turco, Orhan Pamuk, com o romance Istambul, com o qual ele ganhou o Nobel de Literatura de 2006.” 

Como artesã da poesia, é possível conhecer um pouco das criações de Maria Alice logo abaixo, enquanto o livro com a antologia poética não se materializa fisicamente. Para entrar em contato com a poeta, envie e-mail para alicespinelli46@gmail.com.

Hoje eu fiz o mundo parar

Talhei uma madeira,

Abri uma moldura.

Encaixei o mundo

Bem dentro

Do molde.

Apertei os rios,

As águas barrentas,

Lavei a lama.

Encaixei bem dentro da moldura

Talhada.

Apertei o vento,

Dobrei as árvores,

Como numa maleta de roupas.

Amassei as folhas,

Com carinho e sem barulho.

O silêncio já começou.

Hoje eu fiz o mundo parar.

Não posso amassar

Folhas com ruídos

Puídos,

Que incomodam,

O silêncio que já começou.

Bem dentro do quadro,

Moldura talhada

Com suave amor,

Peguei os bichinhos,

Os passarinhos.

E bem dentro do quadro,

Coloquei amor.

Os grandes animais e gentes

Ajustei, encolhi,

E bem dentro do quadro,

Eu tudo guardei:

Crianças, avós, alegrias, trabalhos,

Livros,

Bem dentro do quadro,

Guardei num cantinho,

Que era só colo do melhor amor.

Depois, embalei

Os perfumes, o ar, 

a respiração.

E guardei no quadro,

Bem dentro da moldura talhada.

E para que tudo,

Tudo, vivo permanecesse,

Bem dentro do quadro,

Abri um buraquinho

De ar, de amor,

Para que, dentro do quadro,

Tudo permanecesse

Unido, vivo, sem conflito,

E sem dor.

Pelo menos, dentro do quadro,

O mundo parou.

Um momento de

Amor, de flor,

De estar junto, tudo igual.

Bem dentro do quadro:

Sorriso humano. Sociedade luz.

Pena que foi só dentro do quadro,

NA HORA EM QUE O MUNDO PAROU.

A Noite Tomba

E não diz a ninguém

O céu, que estava cinza

Agora ficou azulado.

O silêncio da noite

E o barulho da arara.

A noite tomba

E não diz a ninguém.

Mas todos sentem,

Pressentem e cativos, aguardam.

Hoje não há brisa,

Nem vento e nem tempo.

Não há tempo

Para o tempo eterno.

Simplesmente,

É eterno esse tempo.

No meio do céu,

Uma folha de palmeira se mexe

Devagar,

Com timidez e temor.

O resto, tudo parado.

Só a noite, que tomba

Se move.

A noite tomba

E não diz a ninguém.

Mas eu sinto,

Eu paro,

Eu contemplo.

E, em êxtase

Pela natureza,

Tombo no tempo,

Fora do tempo

Porque eterno ele é.

EM PLENO CAOS DE SÃO PAULO.

Amores e Desamores

Há muitos amores

Nesta vida,

E desamores também.

Há amores para amar, 

Para odiar,

Para aguardar e 

Nunca chegarem.

Há amores para o deleite,

Infinito e maravilhoso,

Mas, sem nunca se realizarem.

Há amores tão fortes 

Que só o sentir, basta.

Há amores, porém,

Que se realizam, 

E, em desamor se transformam.

Sobretudo, 

Há o amor à vida

Que é o prazer de sentir 

E viver,

ESTE, ABSOLUTO.

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