Pedro Almodóvar retrata os labirintos do desejo nas telas do cinema
El Deseo ou “O Desejo”, além de ser o nome da produtora comandada há mais de 30 anos por Pedro Almodóvar e seu irmão, Augustín Almodóvar, é o que move alguns personagens do cineasta espanhol, o mais aclamado no país e no exterior desde Luis Buñuel. Essa força trágica, irresistível e incontrolável também impulsionou Almodóvar até que ele conseguisse realizar o desejo que habitava seus sonhos desde a década de 1960 quando se mudou para a capital espanhola: fazer cinema.
Aos nove anos, ele encontrou no cinema da Rua Cáceres, da pequena cidade Calzada de Calatrava, na região de La Mancha, um mundo paralelo povoado por sensações compreendidas por ele apesar da pouca idade. Almodóvar teve contato com filmes de Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni e percebeu que a linguagem dramática dos filmes se comunicava com ele de um modo autêntico e especial.
“Na mesma rua, estava o colégio dos salesianos, em que me mal-educavam, e, quatro portas acima, estava o cinema, para onde eu escapava, a fim de ver filmes, e aí recebia o que pensava ser minha educação autêntica. Isto, por si, já era tergiversar a realidade. Para os padres, o que alegavam me dar era a educação. E o cinema, ao contrário, era perversão. Mas dentro do meu universo, eu me sentia mais próximo dessa ‘perversão’ do que da ‘educação’ – má educação – dada pelos padres”, disse durante a entrevista para o programa televisivo Roda Viva, em 1995.
Almodóvar deixou a cidade natal que atualmente tem menos de cinco mil habitantes e partiu para a capital, ainda no período de ditadura franquista que durou até o ano de 1975 e sucumbiu após a morte do general Francisco Franco. Sem dinheiro, ele se sustentou vendendo objetos usados na feira “El Rastro”, o principal mercado a céu aberto de Madri. Depois disso, trabalhou por doze anos em uma companhia telefônica e observou de perto os dramas e acontecimentos da classe média baixa espanhola, mas também guardou dinheiro e conseguiu comprar sua primeira câmera, uma Super-8.
“Acho que tudo que aprendi, se é que aprendi algo, foi nessa época. Por um lado, o fato de trabalhar com uma classe social com a qual, depois, já não trataria, me deu uma enorme informação sobre a classe média espanhola. Por outro lado, não fui a nenhuma escola. Apenas comprei uma Super-8 e comecei a rodar histórias com meus amigos. Cinema não se pode ensinar. Pode-se aprender, fazendo. E nos filmes dessa época já estavam todos os temas que desenvolvi depois”, afirma.
O primeiro longa metragem só foi lançado em 1980, “Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão”, considerado o marco inicial de sua carreira apesar de ter dirigido diversos curtas metragens desde 1974 e participado de outros grupos que passaram a ser conhecidos por conta da irreverência, contestação das normas e de padrões estéticos, algumas características de “La Movida”. Se você já escutou a música “Vaca Profana”, de Caetano Veloso, deve ter percebido que ele cita a “movida madrileña” em algum momento. Esse movimento de contracultura emergiu em várias cidades da Espanha, em especial na capital, após o fim da Guerra Civil espanhola como uma reação explosiva e extremamente criativa por parte dos jovens aos anos de repressão.
A transição para outra vida cultural e política foi o cenário profícuo para Almodóvar colocar em prática suas criações conscientes sobre os dramas humanos, em várias escalas, mapeando a realidade a partir de experiências, inclusive vividas por ele mesmo. Entre os filmes de Almodóvar, “Má Educação”, lançado em 2004, é um dos mais autobiográficos por conta do roteiro semelhante a um dos acontecimentos de sua vida: a educação religiosa baseada na culpa e na punição.
Os “almodramas” são interpretados majoritariamente por mulheres, desde as produções do fim dos anos 80 e foi por meio de Almodóvar que as atrizes espanholas Carmen Maura, Victoria Abril e Penélope Cruz se tornaram conhecidas fora da Espanha. Para o cineasta, as mulheres são fascinantes e os personagens femininos conseguem representar realidades transpostas para as telas do cinema. Apesar de não ter vencido nenhum Oscar como diretor, Almodóvar recebeu dois prêmios, um de melhor filme estrangeiro, em 1999, por “Tudo Sobre Minha Mãe” e melhor roteiro original, em 2002, pelo filme “Fala com Ela”. Esses dois filmes também venceram o Globo de Ouro como melhores filmes estrangeiros.
Em 2016, Almodóvar lançará mais uma obra com roteiro e direção assinadas por ele que trata novamente dos dramas do universo feminino. “Julieta” está em fase de pós-produção e ainda não tem data para lançamento, ainda assim, qualquer anúncio já deixa os fãs ansiosos para conhecer mais uma criação do cineasta.
No Brasil, é possível conhecer uma adaptação do filme “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos” para os palcos do teatro. A versão brasileira foi realizada por Miguel Falabella que assina o roteiro e a direção da peça, em formato de musical, estrelado por atrizes consagradas na televisão e no teatro brasileiro como Marisa Orth e Totia Meireles. A peça está em cartaz no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, e os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ou no site Ingresso Rápido.
A lista com a produção completa de Almodóvar pode ser acessada no site IMDb (biografia em inglês), mas o Espaço Cultural indica alguns filmes para compreender a produção do cineasta nas últimas décadas. Década de 1980: “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, de 1988; década de 1990, “Tudo Sobre Minha Mãe”, de 1999; década de 2000 é impossível escolher só um, então serão dois filmes: “Fale com Ela”, de 2002 e “Volver”, de 2006. A última indicação é o filme “A Pele que Habito”, de 2011, protagonizado por Antonio Banderas.
Abaixo, a entrevista completa concedida por Pedro Almodóvar ao programa Roda Viva, em 1995.
El Deseo ou “O Desejo”, além de ser o nome da produtora comandada há mais de 30 anos por Pedro Almodóvar e seu irmão, Augustín Almodóvar, é o que move alguns personagens do cineasta espanhol, o mais aclamado no país e no exterior desde Luis Buñuel. Essa força trágica, irresistível e incontrolável também impulsionou Almodóvar até que ele conseguisse realizar o desejo que habitava seus sonhos desde a década de 1960 quando se mudou para a capital espanhola: fazer cinema.
Aos nove anos, ele encontrou no cinema da Rua Cáceres, da pequena cidade Calzada de Calatrava, na região de La Mancha, um mundo paralelo povoado por sensações compreendidas por ele apesar da pouca idade. Almodóvar teve contato com filmes de Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni e percebeu que a linguagem dramática dos filmes se comunicava com ele de um modo autêntico e especial.
“Na mesma rua, estava o colégio dos salesianos, em que me mal-educavam, e, quatro portas acima, estava o cinema, para onde eu escapava, a fim de ver filmes, e aí recebia o que pensava ser minha educação autêntica. Isto, por si, já era tergiversar a realidade. Para os padres, o que alegavam me dar era a educação. E o cinema, ao contrário, era perversão. Mas dentro do meu universo, eu me sentia mais próximo dessa ‘perversão’ do que da ‘educação’ – má educação – dada pelos padres”, disse durante a entrevista para o programa televisivo Roda Viva, em 1995.
Almodóvar deixou a cidade natal que atualmente tem menos de cinco mil habitantes e partiu para a capital, ainda no período de ditadura franquista que durou até o ano de 1975 e sucumbiu após a morte do general Francisco Franco. Sem dinheiro, ele se sustentou vendendo objetos usados na feira “El Rastro”, o principal mercado a céu aberto de Madri. Depois disso, trabalhou por doze anos em uma companhia telefônica e observou de perto os dramas e acontecimentos da classe média baixa espanhola, mas também guardou dinheiro e conseguiu comprar sua primeira câmera, uma Super-8.
“Acho que tudo que aprendi, se é que aprendi algo, foi nessa época. Por um lado, o fato de trabalhar com uma classe social com a qual, depois, já não trataria, me deu uma enorme informação sobre a classe média espanhola. Por outro lado, não fui a nenhuma escola. Apenas comprei uma Super-8 e comecei a rodar histórias com meus amigos. Cinema não se pode ensinar. Pode-se aprender, fazendo. E nos filmes dessa época já estavam todos os temas que desenvolvi depois”, afirma.
O primeiro longa metragem só foi lançado em 1980, “Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão”, considerado o marco inicial de sua carreira apesar de ter dirigido diversos curtas metragens desde 1974 e participado de outros grupos que passaram a ser conhecidos por conta da irreverência, contestação das normas e de padrões estéticos, algumas características de “La Movida”. Se você já escutou a música “Vaca Profana”, de Caetano Veloso, deve ter percebido que ele cita a “movida madrileña” em algum momento. Esse movimento de contracultura emergiu em várias cidades da Espanha, em especial na capital, após o fim da Guerra Civil espanhola como uma reação explosiva e extremamente criativa por parte dos jovens aos anos de repressão.
A transição para outra vida cultural e política foi o cenário profícuo para Almodóvar colocar em prática suas criações conscientes sobre os dramas humanos, em várias escalas, mapeando a realidade a partir de experiências, inclusive vividas por ele mesmo. Entre os filmes de Almodóvar, “Má Educação”, lançado em 2004, é um dos mais autobiográficos por conta do roteiro semelhante a um dos acontecimentos de sua vida: a educação religiosa baseada na culpa e na punição.
Os “almodramas” são interpretados majoritariamente por mulheres, desde as produções do fim dos anos 80 e foi por meio de Almodóvar que as atrizes espanholas Carmen Maura, Victoria Abril e Penélope Cruz se tornaram conhecidas fora da Espanha. Para o cineasta, as mulheres são fascinantes e os personagens femininos conseguem representar realidades transpostas para as telas do cinema. Apesar de não ter vencido nenhum Oscar como diretor, Almodóvar recebeu dois prêmios, um de melhor filme estrangeiro, em 1999, por “Tudo Sobre Minha Mãe” e melhor roteiro original, em 2002, pelo filme “Fala com Ela”. Esses dois filmes também venceram o Globo de Ouro como melhores filmes estrangeiros.
Em 2016, Almodóvar lançará mais uma obra com roteiro e direção assinadas por ele que trata novamente dos dramas do universo feminino. “Julieta” está em fase de pós-produção e ainda não tem data para lançamento, ainda assim, qualquer anúncio já deixa os fãs ansiosos para conhecer mais uma criação do cineasta.
No Brasil, é possível conhecer uma adaptação do filme “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos” para os palcos do teatro. A versão brasileira foi realizada por Miguel Falabella que assina o roteiro e a direção da peça, em formato de musical, estrelado por atrizes consagradas na televisão e no teatro brasileiro como Marisa Orth e Totia Meireles. A peça está em cartaz no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, e os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ou no site Ingresso Rápido.
A lista com a produção completa de Almodóvar pode ser acessada no site IMDb (biografia em inglês), mas o Espaço Cultural indica alguns filmes para compreender a produção do cineasta nas últimas décadas. Década de 1980: “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, de 1988; década de 1990, “Tudo Sobre Minha Mãe”, de 1999; década de 2000 é impossível escolher só um, então serão dois filmes: “Fale com Ela”, de 2002 e “Volver”, de 2006. A última indicação é o filme “A Pele que Habito”, de 2011, protagonizado por Antonio Banderas.
Abaixo, a entrevista completa concedida por Pedro Almodóvar ao programa Roda Viva, em 1995.
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