Distribuindo processos, tarefas, atenção e amor na Justiça do Trabalho
Receber, cadastrar e distribuir petições. O trabalho parece fácil, mas e quando se trata de centenas delas por dia? No Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, em São Paulo, é assim. Mais de mil processos dão entrada e cerca de 3.500 pessoas são atendidas diariamente na Unidade de Atendimento. Só no ano passado, foram quase 250 mil processos distribuídos na capital.
A frente da Unidade de Atendimento do Fórum há seis anos, Dulcinéa Lima de Jesus Figueredo, sabe da responsabilidade que carrega, pois no setor estão aqueles que recepcionam o cidadão. “Recebemos diariamente os mais diversos tipos de pessoas, desde a mais humilde a autoridades. Temos que estar preparados para atendê-las bem”, diz.
Em 2004, quando o Tribunal do Trabalho da 2ª Região reuniu, no mesmo local, vários serviços para facilitar a vida do jurisdicionado, ela foi entusiasta da proposta e nasceu daí a unidade, que engloba os serviços de informações, distribuição, orientação e atermação, protocolo, expedição e outros. “Meu trabalho é coordenar todos esses serviços. Administro o ofício através de reuniões e discussões sobre a melhor forma de atender”.
À primeira vista, a diretora da Unidade de Atendimento do Fórum Ruy Barbosa, parece um tanto frágil, mas não é preciso mais que uma hora de conversa com a baiana, assumidamente apaixonada por São Paulo, para se descobrir uma mulher de personalidade forte, espírito batalhador e que não tem medo de novos desafios.
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“A rotina no serviço público tem sido, constantemente, alterada por novos procedimentos e ferramentas e o Judiciário vem absorvendo essas mudanças para garantir maior qualidade dos serviços prestados ao cidadão” aponta. Passar a enxergar o jurisdicionado como um cliente que precisa ser bem atendido é outra das mudanças que Dulcinéa se orgulha em ter presenciado no funcionalismo público, que em sua opinião vive um momento diferente de alguns anos atrás quando muitos acreditavam que nada se produzia nas repartições públicas do país. Hoje, o funcionalismo vê-se inundado por conceitos de eficiência, eficácia e qualidade.
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Em tudo que fazemos, se não há desafios, perde-se a motivação _________________ |
A tentativa de humanizar o atendimento ao público foi uma das mudanças mais significativas experimentadas por Dulcinéa em seus 28 anos de serviço público. “Em tudo que fazemos, se não há desafios, perde-se a motivação”, salienta.
Seu primeiro desafio no serviço público foi aprender sobre uma área na qual ela jamais pensou em atuar. Formada em Química Industrial, acalentando o sonho de viajar o mundo e tornar-se uma engenheira química renomada, concluiu o curso de inglês com certificado da Universidade de Cambridge e cursou a faculdade de Engenharia Química até o quinto ano, mas, dificuldades financeiras levaram-na a interromper os estudos.
Como não conseguia emprego na área Química, prestou o concurso para o Tribunal e em 1982 deu início à carreira no Judiciário. A partir daí, estudou muito. Pós graduou-se em Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho e está sempre lendo livros e artigos jurídicos para manter-se atualizada.
O início da década de 1990 também é um marco na história do Tribunal e para Dulcinéa, que participou da implantação do processo de informatização do TRT-São Paulo prestando informações para o desenvolvimento do sistema. De lá pra cá, os atos de carimbar, arquivar, registrar manualmente, vêm sendo abandonados.
A virtualização total do processo é o novo sonho da servidora. “Através da internet o advogado enviará e distribuirá automaticamente a petição inicial, podendo manifestar-se e acompanhar o trâmite processual à distância e sem a utilização de papel. A demanda processual trabalhista da cidade de São Paulo tem dimensões gigantescas, instalar o emprego maciço de tecnologia possibilitará que o usuário faça o máximo à distância” defende.
As horas a mais que passa no setor, o hábito de fazer um balanço diário de seu trabalho e a constante exigência em relação ao uso de boas práticas deram a diretora a fama de “caxias”. “Meus colegas costumam brincar que quando eu morrer vou ficar aqui pelo prédio, cuidando do setor”, brinca a servidora e complementa “gosto muito do meu trabalho e quando a gente gosta do que faz, se dedica completamente”.
O Aurélio define o termo caxias como a pessoa que cumpre seus deveres escrupulosamente, mas isso não diz tudo sobre a diretora. É preciso conhecê-la para saber que a mulher de contrastes, pequena, mas forte, de voz doce, mas imponente, não cumpre apenas seus deveres como servidora. Dulcinéa cumpre uma missão que deveria ser comum a todos: a de ajudar o próximo.
Voluntariado
Além do trabalho no TRT, Dulcinéa dedica-se também ao Clube dos Aventureiros da Igreja Adventista e , no mês de julho, à Escola Cristã de Férias. Modificar o futuro de crianças pobres através do desenvolvimento físico, mental e espiritual é uma das principais metas dos projetos.
Nascida da cidade de Caculé, interior da Bahia, Dulcinéa soube aproveitar as chances que a cidade grande lhe deu. Dedicou-se aos estudos e nunca deixou de acreditar num futuro melhor. Casou-se, teve quatro filhos e, ainda, reserva tempo para as mais de 100 crianças atendidas pelos projetos.
O desejo de menina talvez a impulsione a fazer com que essas crianças acreditem como ela. “Tinha tudo para não dar certo: negra, pobre, mulher e nordestina, mas São Paulo me acolheu. A coisa mais bonita que existe é colocar na cabeça dessas crianças que elas têm as mesmas possibilidades, que elas não são diferentes das outras e que seu mundo pode ser tão bom como o das outras”, revela.
Um lugar? São Paulo
Um livro? O grande conflito (Ellen White)
Uma pessoa? Minha mãe
Uma palavra? Amor
Um sonho? Justiça
Um hobby? Trabalho com crianças
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