Servidor se dedica à escrita poética como instrumento de reflexão
Uma paixão por uma amiga que depois se tornou sua namorada foi um despertar poético, aos 17 anos, para o servidor do TRT10, Gabriel dos Santos Martins. O primeiro poema foi escrito em 2005 e, a partir de 2009 a poesia tornou-se permanente em seu cotidiano quando Gabriel passou a se dedicar à escrita. Guebo, seu pseudônimo, é o responsável por assinar tudo que flui da imaginação do autor.
“A escrita poética apareceu pra mim como forma de expressar sentimentos – inicialmente, das paixões da juventude. Depois, foi se consolidando como um maravilhoso instrumento de reflexão, de conhecimento (próprio, dos seres e do mundo) e de beleza e arte. Assim, desde 2009, meus poemas caminharam de temas mais subjetivos (como os apaixonados, destinados a uma pessoa específica) para outros mais conscientes, amplos, destinados ao bem de qualquer ser humano, sobre espiritualidade, natureza, etc.”
A facilidade para escrever, a dedicação pela leitura e a prática adquirida em conversas pela internet contribuíram para manter Gabriel no mundo das letras em casa e também no trabalho. Como assistente de juiz, o servidor lida o tempo todo com a palavra escrita. “Isto aproxima minha função na Justiça com a vocação e o amor pela escrita. Há momentos para escrever poemas e outros para escrever despachos e sentenças”, afirma.
Para Gabriel, escrever poesia é sua missão, seu serviço. “Escrevo porque isso é natural ao meu ser. Não me preocupo em ser diferente, mas leal à minha essência, em manifestá-la para o bem. Escrevo porque experimentei e creio que compartilhar essas mensagens com outros seres é algo benéfico, capaz de transmitir paz, conhecimento, beleza, harmonia, amor e outros estados luminosos aos leitores.”
A criação dos textos se modificou ao longo do tempo e se estabeleceu como uma atividade diária. “No passado passava por fases intensas, onde a escrita brotava com muita força, borbulhava do meu ser e eu não conseguia “segurar”, tinha que escrever – e muito! Geralmente, isso acontecia quando eu estava apaixonado. Hoje, ela é mais fluida, constante, faz parte dos dias. Criam-se novos versos quando sinto que algo quer se manifestar por mim, ou quando eu considero importante dizer, ou, ainda, para investigar minhas próprias emoções e pensamentos.”
As ferramentas para a escrita dos textos também se modificaram nos últimos anos e o computador se tornou protagonista. “Já usei muito lápis, caneta, papéis e caderninhos, mas atualmente gosto de trabalhar no computador, em editores de textos simples, como o Bloco de Notas do Windows. Se estou à rua, anoto a ideia no celular ou num papel disponível e depois passo pro computador. Tenho nele muitos rascunhos onde posso trabalhar sempre que quiser”, explica.
O autoconhecimento e a busca por outras palavras também está presente durante a leitura, especialmente dos autores Eckhart Tolle, Lao Tsé, Sri Prem Baba, Thich Nach Hanh, Osho e Tiago Bueno. “No campo da literatura, gosto muito dos poetas Carlos Drummond de Andrade, Raiça Bomfim, Hilda Hilst, Keyane Dias, Cecília Meireles, Manoel de Barros, Paulo César Pinheiro. Dos prosadores, destacaria Guimarães Rosa e Clarice Lispector”, enumera.
Leia os poemas escritos por Guebo em seu site ou na página do Facebook. Para entrar em contato com o servidor e poeta Gabriel, envie e-mail para gabrieldsmartins@gmail.com.
Confira abaixo os poemas “Meu Direito”, “Saúde”, “Olhar 8” e “Poeta”:
MEU DIREITO
Tenho fome de direito a terra
Tenho sede de direito a água
Tenho ânsia por igualdade
Vontade de universidade, moradia, cidade
Desejo cultura, educação e verdade
Mas a tudo me negam propriedade!
Não sei se tenho tantos direitos
Ou se o tal “Direito” não tá certo…
Sei é que não acho chão pra plantar,
Escola boa pros meus menino estudar,
Casa decente pra morar, trabalho pro bem viver,
Espaços para opinar, poder realmente dizer!
Mas não tenho medo não. Garanto que sou feliz!
Só assim descobri que o preciso mesmo é criar:
A gente não pode esperar o que do céu não vai cair!
Por isso eu grito, canto, combato, negocio,
Me junto com outras, movimento, reviro, mereço,
Conquisto: sei que o povo tudo conquistará!
Luto pelo dia que teremos muito mais
Do que esses direitos tão formais.
Esse é o meu direito de mudar,
Que nenhum código vai me tirar:
Direito de criar mundo novo
Pra que toda gente possa amar!
(Guebo)
.
SAÚDE
Para viver com saúde,
Saúde!
O dia,
As pessoas,
Os bichos,
As plantas.
Saúde
Teu corpo,
Tua alma;
Mãe Terra
E Pai Céu.
(Guebo)
.
OLHAR 8
que erro é esse
que da visão nos afasta?
medo, sombra ou couraça
impede o encontro dos sóis?
são pensamentos banais
e violências tão grossas
que as reverências nossas
ficam presas nos cais.
mesmo frente a frente,
o toque impossível,
se estamos ao nível
do ser humano doente.
são tantos preconceitos
e tantos julgamentos,
tornando os momentos
de antemão já desfeitos.
ei, olha no meu olho!
por favor, pode olhar…
veja um pedaço do mar
tranquilamente, sem dó.
veja um traço do amor,
sem vergonha, amigo!
meu olho é um abrigo
de luz, vida e dor.
me olha, meu bem!
deixo corpo inteiro.
sou só passageiro
do que é teu também.
assim te permito,
me abro ao meio
sem qualquer receio
do nosso infinito.
(Guebo)
.
POETA
Minha cabeça é pedinte
Por presenças e ares,
Cheiros e flores, ritmos e febres.
Maços de cartas, jogos de búzios, telas,
Confissões, purgatório: tudo
Palavras que não escrevo
Enquanto aguardo sonhos, nudezes,
Ondas gigantes, ações revolucionárias.
A poesia que espero.
O poeta que fuma e
A abstinência que lhe dói.
A poesia que acho depois de tragos
Ri de mim e seca logo.
Não nado, pelo contrário, me mal trato,
Descavo, arrumo de novo os armários,
Falo da movimentação dos alienados,
Considero-me desanuviado, coitado.
Que porra é ser poeta, que é ter
Essas empolgações humanas
No mundo das respostas prontas,
Composições de fios e nexos,
Conjunto de peças ao leitor-
Ouvinte de corpo angustiado?
O poeta que digita a vida,
Bicho que troca e acentua
Conforme às graças da coisa,
As regras literárias,
As formas cultivadas,
A alienação poética.
O poeta que pinta,
Que tem graça e lógica espertas,
Gênio tropeçado pela mãe
Inteligente ou pela educação,
Canta para quem???
A poesia que nego ter,
Que tento só ser,
Um dia ver.
A poesia que me espera.
Poesia e poder,
Segredos contados
Em versos misteriosos
Que despertam algo.
O poeta bom se traz
Algo como Drummond,
Waly, Cecília, Rumi.
Poesia, se liberta.
A poesia e o trabalho
A rosa e o povo
A vida e o sonho
O poeta e o espelho
O escritor e o tiroteio.
A poesia que toca
O poeta que ouve
A poesia que pinga
O poeta que molha.
Poeta que canta
A poesia que encanta,
Quero ser poeta
Da poesia
Que arrebenta.
(Guebo)
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