Escrita versátil: servidor do TRT15 mantém rotina de criação há mais de 20 anos
Fabiano Possebon é autor de crônicas, contos, peças teatrais e colabora com jornais.
Toda quarta-feira à noite Fabiano Possebon e sua esposa Sandra têm um compromisso: transformam a casa em uma oficina de redação. Cada um escreve um texto com um assunto pré-definido, em algumas ocasiões, e em outras os temas são livres.
O gosto pela escrita surgiu na infância e Fabiano relembra suas primeiras experiências no mundo das letras. “Às vezes, assistia a um filme, em seguida fazia um resumo, fazia modificações na história. Acabava fazendo um novo roteiro para o filme assistido. Em outros momentos, brincava com meu irmão e amigos montando os filmes com bonequinhos. Geralmente eram western, ficção científica ou filme épico. Às vezes misturava cowboy com ficção científica. Em algumas ocasiões eu mesmo representava o filme. Também gostava de transcrever no papel o que havia aprendido nas aulas de História, que é a minha disciplina preferida.”
Ainda na infância ele começou um livro com sua interpretação para a História do Brasil, mas dessa época ficaram apenas as lembranças porque Fabiano descartou toda sua produção escrita. Após finalizar a graduação em Psicologia, ele escreveu um livro sobre a temática apreendida mas não publicou a obra.
“Tenho pronta para ser editada uma coletânea de crônicas. Com 19 anos, comecei a escrever mensalmente para um jornal espírita de Campinas chamado ‘Alavanca’. Com o tempo fui escrevendo para outros jornais e revistas espíritas. Também escrevi para a ‘Folha da Região’, de São José do Rio Pardo. Para este eram temas diversos, no entanto, mais voltados para a Psicologia”, explica.
Fabiano é versátil como escritor: desde 1996 colabora regularmente com textos para jornais, tem um conto premiado (intitulado Frankestein pós-moderno), é co-autor de um livro com temática espírita, autor de peças teatrais, sendo algumas espíritas, mas sua preferência é criar textos humorísticos.
“No tocante ao meu processo criativo, às vezes me baseio em fatos que aconteceram comigo ou que ouvi falar, a partir daí crio novas situações, com novos personagens, aí ponho para funcionar toda a minha criatividade. Em outros momentos, minhas histórias são originais mesmo. Às vezes, faço o que Moacyr Scliar fazia na Folha de São Paulo: a partir de uma notícia de jornal criava uma história em cima dela.”
Além de escrever, Fabiano gosta de ler livros em outros idiomas, entre eles, espanhol, francês, inglês, italiano e esperanto. Em 2018, ele cita alguns livros favoritos que foram lidos: “Os Fantoches de Deus, de Morris West; Tarsila, escrito por Maria Adelaide Amaral; Eu a Amava, de Anna Gavalda; Aguapés, de Jhumpa Lahiri; Eva Perón, Alicia Dujovne Ortiz e O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder”.
Enquanto escritor, ele colabora mensalmente para o Jornal Democrata, de São José do Rio Pardo, que disponibiliza as colaborações no site. Além disso, o servidor teve sua crônica “Histórias” publicada na edição atual da revista ANAJUSTRA em Pauta, na coluna “Marcando Presença”, dedicada a compartilhar contribuições de associados enviadas para a revista.
Confira a seguir mais uma criação do escritor Fabiano Possebon. Para entrar em contato com o escritor envie e-mail para: sfapossebon@hotmail.com.
Neblinas
Ele estava no carro, junto com dois casais. Trabalhavam na mesma empresa.
Não se sentia feliz há algum tempo…
Talvez seja por isso que seus amigos o convidaram para viajar. Estavam indo à praia.
Já estava arrependido de ter aceitado o convite. Saíram bem tarde da noite e aquela viagem o estava irritando. Os casais conversavam entre si e ele sentia-se distante daquela alegria estúpida.
Finalmente chegaram ao destino. Todos felizes porque o sol estava a pino. Ele detestava sol. Propuseram uma caminhada antes de irem para a hospedaria. Negou educadamente. Alegou indisposição, cansaço. Ficaria esperando.
Preocupado, o aconselharam a ficar ali, não se afastando do carro. Em breve retornariam.
Sentiu-se aliviado ao ver que se afastavam. Finalmente silêncio, nada de risadas. Encolheu-se no banco traseiro, cerrou os olhos.
Caminhava, a praia estava completamente vazia… A cada passo a neblina tornava-se mais densa… resolveu entrar na água, molhar os pés… afastar aquela angústia que o dominava. Começou a perturbar-se. Sua visão se tornava turva. Não conseguia distinguir nada.
Começou a caminhar mais rápido, de longe ouvia barulhos estranhos, algo como latidos… ou seriam gemidos? Sentia perder a razão… sua vida era como aquela situação: solitária, angustiosa, nebulosa, sem sentido.
Começou a correr… ouvia o barulho da água e ouvia também seu nome ao longe. Não conseguia definir de onde vinha a voz…
Cansado da corrida, resolveu voltar, a neblina tornou-se mais branda… Algo estranho acontecia: via roupas, maiôs, biquínis, calções, chinelos suspensos… se movimentando como se houvessem corpos a vesti-los, mas não conseguia ver pessoas.
Teve a certeza de que estava enlouquecendo. Esfregou os olhos, deu um mergulho, suava frio. Começou a temer seriamente por sua lucidez. Gritou chamando alguém, pedindo socorro.
Com um forte tapa foi acordado. Era um pesadelo. Ainda bem!
Pediram desculpas pelo tabefe, mas ele não respondia quando o chamavam.
Ficaram preocupados, pois ele gemia e se agitava.
Ficou feliz em ver os amigos. Talvez o sonho tenha sido um aviso: nada de isolamento, nada de tristeza.
Grato por ter sido despertado, indagou onde iriam tomar o café da manhã. Estava morto de fome!
Riram-se dele e foram a caminho da hospedaria.
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