Duo literário
Lauro, Theo e Benício são filhos de Frederico Brito, servidor do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará (TRT7), e Thais Evangelista, do Supremo Tribunal Federal (STF), atuando provisoriamente no TRT7. Seria injusto fazer uma apresentação tão simplória porque eles são mais do que apenas filhos do casal: tornaram-se personagens, em alguns momentos, e fontes de inspiração constante para os pais. Frederico e Thais são parceiros em todas as esferas da vida, inclusive na criativa. Eles se dedicam à criação de histórias para o público infantojuvenil, escritas a quatro mãos, na maioria das vezes.
Para Frederico, a história da escrita literária começa com o nascimento dos filhos. Ele relembra o momento que encontrou as histórias infantis, lidas para as crianças. “Foi assim que comecei a escrever contos infantis e infantojuvenis. Meus filhos são a maior inspiração para minha produção literária. É por eles que escrevo e é para eles que conto histórias. Mas fico imensamente feliz por saber que meus livros também chegam até as mãos dos outros pequenos leitores. É muito gratificante ver minhas histórias se transformarem em livros e se tornarem parte do imaginário das crianças e dos jovens. Isso recompensa todo o meu esforço.”
Thais é filha de professora e relembra o convívio com os livros desde pequena, estimulada pela mãe, e das primeiras experiências no âmbito da escrita. “Desde pequena eu costumava escrever historinhas, fazia os desenhos, grampeava as folhas de papel e dava o ‘livrinho’ de presente para minha mãe. Hoje fico emocionada com meu filho Theo, de 8 anos, que sempre me presenteia com ‘livrinhos’, do mesmo jeito que eu fazia com minha mãe (só que ele desenha infinitamente melhor do que eu)!”, diz.
A borboleta
Quando Frederico fala sobre o “esforço”, tente imaginar a parte da “transpiração”, de colocar tudo no papel (ou no computador), e preencher os vazios com as palavras. Após aprender a usá-las, como diria Manoel de Barros, com um ponto ele muda o destino de um objeto, pessoa ou história. Para isso, os dois “elegeram” as madrugadas como período produtivo, enquanto os filhos estão dormindo, e materializam seus sonhos e os das crianças em formato de conto.
“Costumo dizer que a inspiração é uma borboleta. Se ela surge pra mim, preciso alcançá-la. Caso contrário, termino por perdê-la. Minha esposa e meus filhos já entendem esse meu jeito. Quando a inspiração chega, deixo tudo de lado e vou escrever. Além disso, tenho uma parceria literária muito boa com minha esposa Thais Evangelista”, explica Frederico.
Thais afirma que escreve “[…] por necessidade de expressar ideias e sentimentos, de registrar acontecimentos. A escrita me liberta, suaviza minha alma. Então não tem como ser diferente”. Em relação ao processo criativo, ela complementa: “Vou anotando rascunhos de algumas frases ou pensamentos no bloco de notas do celular e normalmente à noite tento desenvolver o texto. Meu esposo Frederico Brito é um grande parceiro de vida e na literatura. Trabalhamos muito a quatro mãos. A gente vai escrevendo e discutindo, alterando o enredo”.
“Livrinhos” e “livrões”
Thais e Frederico já publicaram um livro juntos: “Lauro vai ganhar um irmão!”, em 2020, pelo Clube de Autores, homenagem ao filho primogênito Lauro, de 10 anos. O primeiro livro solo de Frederico foi publicado em 2017: “A sinfonia da dona cutia”, o segundo, “Terra da luz: poesia que seduz”, é de 2018. No mesmo ano, Thais publicou “O menino vaqueiro que sonhava ser jangadeiro”. O reconhecimento pela dedicação do casal à literatura infantojuvenil vai além do ambiente familiar: Frederico e Thais foram premiados pela Secretaria de Educação do Ceará em três concursos literários. Para o casal, estimular o hábito de leitura nas crianças e adolescentes é um dos maiores prêmios.
“Nosso livros premiados são distribuídos nas escolas públicas da rede de ensino. Trata-se de um trabalho maravilhoso que oportuniza o acesso à cultura para as crianças e jovens e estimula a leitura dentro e fora da sala de aula. Meus textos procuram explorar aspectos que considero relevantes para a formação do indivíduo, entre os quais noções de empatia, respeito à diversidade, trabalho em equipe, combate ao ‘bullying’ infantil, noções de fauna e flora, relações familiares, e etc.”, diz Frederico.
“Lauro vai ganhar um irmão!”, o último livro lançado pelo casal de escritores também tem um aspecto especial, de acordo com Thais: “Os direitos autorais recebidos com a vendagem do livro estão sendo revertidos para a Associação dos Catadores do Jangurussu (ASCAJAN), em Fortaleza. É uma forma modesta que encontramos de ajudar as 65 famílias que trabalham com resíduos reciclados e que estão com sua principal fonte de renda comprometida em razão da pandemia provocada pelo novo coronavírus”.
Enquanto vão criando os “livrões” e recebendo os “livrinhos” feitos pelos filhos, eles aguardam o lançamento de mais uma obra escrita em dupla que será publicada pela Katzen Editora: “O renascer do macaquinho Terê”. “Esse livro, pelo qual tenho um carinho especial, aborda o tema do luto no universo infantil. Além disso, pretendemos publicar em breve o livro ‘Doutor Rex’, que escrevemos para nosso filho caçula Benício, de 4 anos. Temos hoje mais de 20 textos infantis escritos aguardando oportunidade de publicação”, afirma Thais.
“Exercício de ser criança”, parafraseando o poeta Manoel de Barros
Questionados sobre a motivação para criar, Thais diz que a experiência de escrever para crianças tornou-se um reencontro constante consigo mesma e destaca a participação dos filhos no processo literário. “Gosto de escrever para crianças, em busca de reencontrar a minha criança interior, de dialogar com ela. Nossos filhos também dão dicas sobre temas que querem que a gente escreva. Eles lançam o desafio e nós quebramos a cabeça para atender!”
Sobre as influências, Frederico cita Mário Quintana, quando fala em escrita poética. “Certa vez, ele afirmou: ‘Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão’. Uma poesia pode ser esteticamente admirável, metricamente perfeita, mas se não tiver alma, torna-se imperfeita. Meus poemas favoritos são os que remetem às reminiscências da minha infância, às brincadeiras com meus irmãos, às guloseimas da minha mãe e aos ‘causos’ do meu pai. Tocam a mim e creio que tocam quem os lê. […] Meus filhos também me influenciam bastante, pois são três figurinhas muito especiais e já deram o ar da graça em alguns dos meus contos!”
“Meus filhos sabem que minha escritora favorita desde a infância é a Eva Furnari. Adoro seus textos e suas ilustrações. Eu volto a ser criança quando leio os livros dela para eles (viajo no tempo). Para as crianças que não a conhecem, sugiro ler ‘Assim assado’, meus filhos já deram incalculáveis risadas com ele (e eu também)! ‘Felpo Filva’, da mesma autora, também é campeão de preferência aqui em casa. Mas um livro que me marcou muito, indicado por minha mãe, foi ‘Quando eu voltar a ser criança’, de Janusz Korczak, que nos faz aproximar da alma infantil de um jeito muito peculiar”, ressalta Thais.
Seja na cidade, no interior, no sertão ou no campo, cada pessoa carrega sua infância em algum canto do corpo, além de muitas memórias, relembradas por fotos, cheiros ou sensações. Thais e Frederico exercitam “ser criança” para viver, escrever e se comunicar com seus jovens leitores porque já sabem do mais importante: é com as crianças que a gente aprende sobre liberdade e poesia.
Quer acompanhar de perto os lançamentos dos próximos livros? Entre com contato com os escritores pelo Instagram: @thais.evangelista e @fredericombr.
Livros publicados por Frederico Brito e Thais Evangelista
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