Alessandra Nascimento: associada produz textos sobre arquitetura e design nas redes sociais
O interesse da associada Alessandra Nascimento, do TRT da 5ª Região, pela arquitetura e design vão além da admiração. Sua paixão por patrimônios históricos a motivou a também escrever sobre o assunto, em seu perfil no Facebook. “Não quero guardar só para mim aquilo que produzo com tanta paixão e as redes sociais são um espaço que o outro pode ter fácil acesso”, observa.
A fascinação pela arquitetura e design de interiores sempre existiu, e a associada sempre a teve como um hobby, mas o amor foi crescendo, principalmente por conta da beleza histórica de Salvador. “Eu já observava muito os prédios antigos das cidades, então comecei a identificar os estilos e me dava vontade de pesquisar mais. Minha cidade é um paraíso para quem gosta de história”, explica.
São vários os estilos de arquitetura e design que atraem Alessandra. Na arquitetura, seus favoritos são neo clássico, art deco e brutalista. No design, o boho chic é o mais apreciado pela servidora.
Seu processo criativo é baseado em muita leitura, mas principalmente, na beleza da cidade. “Quando vejo da minha janela o céu azul, as nuances do verde das árvores do Parque da Cidade e um pedacinho do maravilhoso mar de Salvador, não posso deixar de pensar ‘taí uma boa paleta’”, descreve a associada.
Dentre alguns projetos que Alessandra sonha para o futuro, estão terminar o curso de Design de Interiores e, quem sabe, trabalhar paralelamente como designer. Outro plano é lançar um livro digital com todos os seus textos!
Mas não pense que a servidora pretende deixar a carreira para se dedicar à arquitetura e design. “A formação em Direito e o trabalho como oficial de justiça é algo que também me realiza”. Alessandra lembra que no início até chegou a se questionar sobre qual seria a sua verdadeira paixão. “Com o tempo e a maturidade, percebi que dá para conciliar e ser feliz nos dois momentos!”, finaliza.
Para conhecer todos os textos da associada, ou enviar uma mensagem no Facebook ou Instagram.
Confira alguns de seus textos:
Três prédios icônicos em Salvador
INSTITUTO DO CACAU
Durante o apogeu do cacau em terras baianas, foi criado o Instituto do Cacau da Bahia em oito de junho de 1931 como um organismo destinado a minimizar problemas agronômicos e financeiros que afetavam as lavouras cacaueiras. Para a sua sede, o local escolhido foi um aterro na cidade baixa, ao lado da, hoje, Praça Marechal Deodoro. O imóvel foi um dos primeiros construídos na região do Porto de Salvador.
O projeto foi encomendado ao arquiteto alemão Alexandre Buddeus e ficou pronto em 1932. Buddeus projetou um edifício moderno, com linhas avançadas para a época e claramente inspirado na arquitetura Bauhaus, o que faz com que seja o único imóvel público de Salvador no referido estilo. Além disso, possuía uma sofisticação que remetia ao estilo art deco. Foi identificado também como uma das primeiras obras de arquitetura moderna na cidade.
Nessa (bendita) miscelânea de estilos, o prédio é inaugurado em 1932 como um dos imóveis mais modernos e tecnológicos da cidade para a época. Em 2002 foi tombado pelo IPAC (Institudo do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia).
O prédio abrigou por muitos anos um museu cujo acervo continha quadros, documentos, móveis coloniais, louças, urnas indígenas e objetos diversos ligados à cultura cacaueira que durante décadas foi a principal commodity do estado da Bahia. O museu hoje está fechado, já que entre 2011 e 2012 sofreu dois incêndios com intervalo inferior a oito meses, ficando em estado lamentável. Este importante edifício ainda não foi recuperado, embora no local funcionem alguns órgãos do governo estadual.
Situado no bairro do Comércio, em paralelo ao porto de Salvador, o Instituto do Cacau impressiona por sua imponência e lembra um grande navio, como os que ali estão ancorados, pertinho!
SOLAR DO UNHÃO
Datado de 1690, trata-se de um expressivo conjunto arquitetônico integrado por solar, capela de Nossa Senhora da Conceição, cais privativo, aqueduto, chafariz, senzala e alambique com tanques.
O imóvel foi construído para abrigar a residência do Desembargador Pedro Unhão Castelo Branco (daí o nome) e representa uma das mais importantes construções da época colonial na capital baiana. Os maravilhosos painéis de azulejo português e o chafariz, ambos do século XVI impressionam.
Ao longo dos séculos o Solar do Unhão abrigou, como residência, famílias abastadas, foi engenho de cana de açúcar, entreposto comercial, fábrica de fumo e tabaco e derivados de cacau, alambique, trapiche, cortiço, depósito de combustíveis e explosivos, além de quartel de fuzileiros navais durante a segunda guerra mundial. Foi tombado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Naciona -l em 1943.
A partir de 1958, a irrequieta e criativa arquiteta italiana Lina Bo Bardi, tomada de amores por Salvador e pelo imóvel, ajudou a criar e comandou as obras do Museu de Arte Moderna da Bahia, que lá está até hoje! No final da década de 90 foi inaugurado o Parque das Esculturas que fica ao lado do museu.
Quem passa pela Av. Contorno, que margeia a Baia de Todos os Santos, espichando o olhar vai enxergar este belo conjunto arquitetônico que de tão perto do mar tem até praia privativa, a chamada Prainha do Museu, que inclusive, tem sido objeto de algumas polêmicas na cidade, mas isso é assunto para outro momento!
IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO
Considerada uma obra prima do barroco brasileiro, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, construída paralelamente à Igreja do Convento de São Francisco, estando à sua direita, teve a fachada toda entalhada na pedra de arenito baiano pelo mestre carpinteiro e escultor Gabriel Ribeiro e ficou pronta em 1773. No Brasil há apenas um único exemplar com esse tipo de fachada, a Igreja de Nossa Senhora da Guia, em Lucena, na Paraíba.
Trata-se de um raro exemplar que nos remete ao rebuscado barroco espanhol.
No século XIX teve os seus altares barrocos substituídos pelos de estilo neo clássico e em uma reforma antiga a fachada foi recoberta de argamassa por ser considerada fora de moda (sem palavras!).
Em 1932, um eletricista, ao instalar luzes, deu marteladas fazendo cair parte do reboco, revelando o trabalho que havia sido escondido.
Foi tombada pelo IPHAN em 1938 e traz delicadeza ao importante conjunto das Igrejas que embelezam o Centro Histórico de Salvador no Terreiro de Jesus.
Pequeno Dicionário Afetivo:
BAUHAUS – escola de artes plásticas, design e arquitetura que funcionou na Alemanha de 1919 a 1933. Seus alunos e professores viviam na escola e apesar do pouco tempo de duração, a produção foi intensa e influencia a arte até hoje. Mies Van der Rohe, o célebre criador da cadeira Barcelona, e Wassily Kandinsky foram mestres na Bauhaus.
ESTILO ART DECO – surge na Europa em 1910, tendo seu apogeu nos anos 1920 a 1930. Estilo luxuoso que usa marfim, jade e laca com estilização das linhas retas e circulares;
ESTILO BARROCO – segundo Caetano Veloso, a Bahia é barroca, mas o movimento surgiu na Itália do séc. XVI. É um movimento onde a estética religiosa é muito forte e o azulejo português tipicamente azul e branco é largamente utilizado. O barroco brasileiro durou até o século XIX;
ESTILO NEO CLÁSSICO – inspirado nas estruturas da arquitetura greco-romana, surge na Europa do se. XVII;
LINA BO BARDI- arquiteta italiana naturalizada brasileira, chegou ao Brasil nos anos 40 fugindo da guerra. Constrói sua moradia/escritório/laboratório entre os anos de 1950 e 1951 e a chama de Casa de Vidro. Suas inúmeras obras na cidade de São Paulo são referência de modernidade e vanguarda.
Brutalismo
Os brutos também amam! E decoram!
O estilo brutalista surge como uma extensão do modernismo nos anos 50/60 e nasce como conseqüência das guerras mundiais, sobretudo para reconstruir de forma econômica e efetiva grandes estruturas perdidas nas batalhas da segunda grande guerra. Mais que uma estética, o brutalismo é filosofia social e foi essa filosofia que inspirou Le Corbusier a projetar um conjunto habitacional em Marselha, na França.
A Unité d’Habitation ficou pronta em 1952. Suas formas e materiais remetem a um estilo puro que não esconde forma e função, ostenta volumes puros e maciços e trabalha com muito concreto!
A cidade de São Paulo com seus prédios e até mesmo seu céu em cinqüenta tons de cinza (não resisti!) é maravilhosamente bruta e ostenta um sem número de construções no estilo. Muitas delas projetadas por Lina Bo Bardi como o MASP e o SESC Pompéia, além da sua Casa de Vidro funcional e totalmente usável – oficialmente modernista mas certamente brutalista. A Casa de Vidro, outrora moradia, escritório e ateliê e hoje museu, parece flutuar sobre finos pilotis, revelando o estilo claramente vanguardista de sua dona .
Lina Bo Bardi valorizou suas criações – externa e internamente – com extrema simplicidade (nunca indigência) corroborando com a célebre frase de Leonardo da Vinci que diz que a simplicidade é o último grau de sofisticação.
Surpreendentemente, a primeira aparição do brutalismo não foi em São Paulo mas sim na cidade do Rio de Janeiro no Museu de Arte Moderna, cujo projeto de Affonso Eduardo Reidy de 1952 foi elogiado por Le Corbusier.
Interiores brutalistas trazem concreto, inclusive nos móveis, pois camas, sofás, armários, bancadas e um sem número de objetos podem ser feitos do material. Outros materiais também são utilizados mas colocando sempre a função a serviço da forma. Uma bela tora de madeira com um tampo de vidro representa o estilo. Inserida em uma sala de paredes de cimento queimado com conduítes aparentes, é o fino do brutalismo. Reutilizar armários e estantes de aço de antigos escritórios, inteiros ou somente as gavetas, também dá um toque de brutalismo no ambiente.
Existem casas icônicas no Brasil que são “brutalistas raiz” projetadas por arquitetos de grandes obras.
A casa-ateliê que Ruy Ohtake projetou para sua mãe Tomie Ohtake, hoje tombada pelo órgão municipal de preservação do patrimônio histórico, cultural e ambiental da cidade de São Paulo (Conpresp), tem concreto por toda parte e nos interiores a cama, sofá e armários são desse material. A Casa Butantã de Paulo Mendes da Rocha, além da casa de vidro de Lina Bo Bardi são também exemplos concretos (desculpem o trocadilho) da estética..
Vale a pena dar um Google e passear por estes ambientes para sentir a pureza de uma décor original, conceitual e cuja beleza nem sempre está aparente mas sempre estará à disposição dos que derem uma segunda chance ao olhar.
As paletas do brutalismo podem ser as mais variadas, mas certamente as cores quentes são as que mais contrastarão com os maravilhosos cinzas do concreto e do cimento queimado. E vou logo avisando que bege vai deixar tudo desmaiado e sem personalidade, esse estilo é para quem gosta de fortes emoções!!!
Pequeno Dicionário Afetivo:
Le Corbusier – arquiteto e artista suíço naturalizado françês cuja obra alinhada com a estética modernista e os princípios da Bauhaus o tornou um dos maiores arquitetos do século. XX;
Lina Bo Bardi – arquiteta italiana naturalizada brasileira, chegou ao Brasil nos anos 40 fugindo da guerra. Constrói sua moradia/escritório/laboratório entre os anos de 1950 e 1951 e a chama de Casa de Vidro. Suas inúmeras obras na cidade de São Paulo são referência de modernidade e vanguarda.
Pilotis – conjunto de pilares/colunas de sustentação de edifícios que deixam extensa área livre para circulação. Muito utilizados na obra de Oscar Niemeyer
Conduítes – conduítes ou eletrodutos são tubos por onde passa a fiação elétrica. Os metálicos e aparentes são utilizados como marca dos estilos brutalista e industrial de decoração.
Fonte: Livia Lino, da assessoria
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