Financiamento coletivo para novo livro de servidora do TRT4
Renata Wolff é escritora e mestranda em Escrita Criativa.
Em 2015, Renata Wolff publicou seu primeiro livro de contos, “Fim de Festa”, “que trata de acontecimentos únicos e diferentes tingidos de uma beleza melancólica, mas não desesperançada. Como todo fim de festa, uma fase se encerra, mas novos convites podem surgir”, diz.
O livro foi adaptado para o teatro e apresentado pelos formandos do curso de Artes Cênicas da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), em 2017.
De lá para cá, Renata tem se dedicado à escrita literária e acadêmica, em especial, por conta do mestrado em Escrita Criativa na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
Financiamento coletivo
Entre as produções recentes dela estão os contos “Feliz aniversário”, publicado na “Antologia Três” pela editora Bestiário, e “Flashback” que fará parte da coletânea “Fake fiction: contos sobre um Brasil onde tudo pode ser verdade”, disponível para apoio no site Catarse.
“Os contos reunidos tratam do Brasil recente e de possíveis futuros, de absurdos reais e imaginados. Os textos foram organizados em uma linha de tempo, que começa nas manifestações de 2013, passa pelo impeachment, pelo pré e pós-eleições, passa pelos dias do governo atual e vislumbra futuros”, explica Renata.
É possível contribuir com a publicação da coletânea até o dia 14/1. Para participar, acesse a campanha no Catarse e escolha o valor (a partir de R$ 17,00) e recompensas desejadas.
“A campanha tem limite de tempo e é ‘tudo ou nada’, ou seja, ou atingimos a meta ou nada feito (e nesse caso são devolvidas as contribuições). Então, seja porque o livro vai ser muito bom, seja pelo que estamos vendo acontecer no país, ou porque as recompensas do financiamento coletivo estão simplesmente demais, o que não faltam são motivos para ajudar esse ‘contragolpe’ literário!”, diz Renata.
Confira um trecho do conto “Flashback”, de autoria da servidora e escritora Renata Wolff, que estará no livro “Fake fiction: contos sobre um Brasil onde tudo pode ser verdade”.
Flashback
— Por que você não foi no protesto?
— Eu fui.
— Mas eu mandei mensagens e nada.
— Não te procurei.
— E por que não?
— A gente nunca ia se encontrar lá no meio.
Eu continuei cortando tomate sem olhar pra você.
— Deixa ver suas fotos depois.
— Não tirei. A bateria estava no fim.
— Viu aquela faixa bem grande, toda preta, só da cara dele com bigodinho de Hitler?
— Vi, sim. Bacana.
A faixa não existia, eu inventei. Foi a primeira vez que eu tive certeza de que você estava mentindo, assim, na minha cara. Então fiquei pensando se eu colocaria a mão no fogo que você não tinha votado nele mesmo. Lembrei os seus silêncios quando eu desabafava. As suas fotos de comida e de academia na rede social mesmo nos dias em que tinham matado alguém. A sua falta de indignação, a ida relutante ao protesto porque eu insisti. Aquela vez em que eu peguei você lendo sobre terraplanismo no seu computador. Me senti tão só. Me dei conta de que não era a primeira vez que eu me sentia só. Do seu lado.
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