Servidor coordena ação com aulas gratuitas em Teófilo Otoni (MG)
Concentração, confiança, autoestima, disciplina e senso de cidadania. Para o servidor do TRT3, Adriano Lélis de Medeiros, que pratica karatê há 27 anos, esses são os principais benefícios da arte marcial, além do aspecto físico, que ele considera secundário. “Gosto sempre de pontuar que fui uma criança acometida por asma, um adolescente obeso e um adulto extremamente tímido, e que o karatê me ajudou a superar tudo isso”, relembrou.
Mas a arte marcial não apareceu tão cedo na vida de Adriano, com exceção dos filmes que assistia com o pai, aos domingos no cinema, quando tinha 5 ou 6 anos de idade. “Em maio de 1990, um amigo de infância, que estava um pouco empolgado com filmes e livros de lutas, disse que no Sesc da minha cidade havia uma turma de karatê e que estava procurando alguém para se matricular junto com ele, para que ele não ficasse muito deslocado, por não conhecer ninguém da turma. Eu disse que topava me matricular, que ficaria alguns meses e, que quando ele já estivesse ambientado, eu sairia. Não tinha grandes expectativas, pois até então nunca tinha me destacado em nenhum esporte ou atividade física. O resultado: ele frequentou a turma durante dois meses e eu permaneço praticando karatê até hoje.”
A prática foi além dos dois ou três dias da semana dedicados aos treinos. Adriano tornou-se professor de karatê e criou um projeto no qual atua como voluntário: Karatê Shotokan Jesus é Maior e, desde 2007, os treinos ocorrem nas dependências da Comunidade Evangélica Luterana, em Teófilo Otoni (MG). Inicialmente, as aulas ocorriam somente aos sábados mas, com a evolução dos alunos e a necessidade de uma preparação mais específica visando competições, foram criados mais dois horários na semana, às terças e quintas-feiras à noite.
O projeto atualmente conta com uma equipe de seis professores, que se revezam na instrução de quatro grupos distintos: crianças principiantes, adultos principiantes, turma intermediária e equipe de competições, cada uma com rotina de treinamentos diferente e direcionada para o nível de proficiência no esporte. O projeto vem ganhando novos adeptos a cada dia e revelando diversos campeões, tanto a nível estadual quanto nacional.
As aulas são gratuitas e, além de Adriano, os professores são voluntários e todos faixas pretas, nível de graduação exigido para lecionar aulas da modalidade, alcançado, geralmente, após muitos anos de prática. Outra parceria do projeto, além da Igreja Luterana, é a Academia Campos, que submete os alunos aos exames de graduação e emite os certificados – posteriormente homologados pela Federação Mineira de Karatê (FMK) – e inscreve os atletas para participarem de competições oficiais.
“Em 2016, o instrutor Patrício Maior de Souza e o aluno Tiago Ribeiro dos Santos, ambos ligados ao projeto, foram campeões brasileiros por duas importantes organizações do esporte, a Confederação Brasileira de Karatê (CBK) e a Confederação Brasileira de Karatê Interestilos (CBKI). Após esses resultados, sentimos a necessidade de dividirmos responsabilidades e setorizarmos os treinamentos. Cada professor planeja cuidadosamente sua aula, conforme parâmetros decididos coletivamente, e eu tento coordenar o conjunto, de acordo com o calendário traçado e os resultados almejados. Atualmente, participamos dos campeonatos mineiro, capixaba e baiano, Copa BH de karatê, Copa Pedra Azul de karatê e Campeonatos Brasileiros CBK e CBKI”, diz.
No dia 13 de outubro de 2017 todo esse planejamento rendeu mais frutos: a atleta Sarah Saldanha Santos, aluna mais antiga do projeto, de 19 anos de idade e praticante de karatê há 10, sagrou-se campeã brasileira na modalidade kumite, na cidade de Salvador (BA).
Código de conduta
Ele explica que a prática esportiva é totalmente harmônica com a função desenvolvida no TRT3, na VT de Teófilo Otoni (MG), e que o esporte ajuda a aliviar as tensões do trabalho, além de apurar a concentração. A partir do código de conduta chamado Dojo Kun, Adriano e os professores do projeto repassam aos alunos, crianças e adultos, os cinco principais fundamentos do karatê: esforçar-se para a formação do caráter; criar o intuito de esforço; respeitar acima de tudo; conter o espírito de agressão e ser fiel ao verdadeiro caminho da razão. Para ele, as normas de conduta são concomitantemente agregadas ao cotidiano dos alunos, que também aprendem termos teóricos em japonês e têm acesso progressivo a conteúdos filosóficos relacionados à arte marcial.
“A aprendizagem do karatê se inicia com uma preparação física específica, envolvendo alongamentos, aquecimento, exercícios de força, equilíbrio e coordenação específicos, visando preparar o iniciante para as rotinas e movimentos que terá que executar durante a sua trajetória como atleta. Num nível um pouco mais avançado, executa-se a repetição planejada de movimentos desenvolvidos ao longo dos anos por professores experientes, de forma estacionária ou em deslocamentos nas mais variadas direções, como forma de preparação para que o aluno esteja pronto para ser apresentado à parte prática. Em seguida, num nível intermediário, além de aprender os katas (formas) mais elaborados, o aluno inicia o treinamento em duplas, sendo introduzido o contato (luta ou kumite) na sua aprendizagem. Num nível mais avançado, quando o atleta já está apto a competir, os treinamentos são direcionados para o alto rendimento, buscando o máximo de perfeição nos movimentos dos katas e o máximo de velocidade e eficiência nas sequências de kumite.”
Atualmente, para complementar o treino de karatê, o servidor também realiza exercícios funcionais em piscina aquecida e pilates, como forma de prevenir lesões e como tratamento auxiliar de algumas limitações de movimentos requeridos pelo esporte.
O karatê pode ter demorado um pouco para sair das telas do cinema e invadir o cotidiano de Adriano, mas há pelo menos duas décadas é protagonista absoluto, já que as tentativas anteriores do karateca em praticar outros esportes como futebol, ciclismo e peteca, todos em nível amador, não foram tão bem sucedidas.
A paixão pelo esporte também contagiou outros membros da família, como os irmãos Alexandre, Aline e Alessandra, os dois primeiros também faixas pretas; o pai Genival Medeiros, faixa preta do segundo grau; a esposa Aline e as filhas, Anna e Alícia, que treinaram entre os alunos do projeto, a última chegando inclusive a se graduar como faixa vermelha. O filho caçula, Adriano Batista Lélis, já saiu da maternidade usando o primeiro kimono e, em breve, será apresentado ao tatame.
Karatê
Karatê é uma palavra japonesa que significa “mãos vazias”. O maior objetivo do karatê é o aperfeiçoamento do caráter, através de árduo treinamento e rigorosa disciplina da mente e do corpo.
Estilo Shotokan
O estilo Shotokan caracteriza-se por bases fortes e golpes no corpo inteiro. Os giros sobre o calcanhar em posição baixa dão fluidez ao deslocamento e todo kata, ou forma, começa com uma defesa. Este é um estilo em que as posiçõs têm o centro de gravidade muito baixo e em que técnicas como um “simples” soco direto são difíceis de se dominar porém, quando a técnica é dominada, o seu poder é incrível e quase sobre-humano.
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