Em obra infanto-juvenil, servidor combate preconceitos vividos por pessoas com deficiência
Há um ano, Ari Heck se dedica ainda mais à leitura e escrita, desde que se aposentou pelo TRT gaúcho, após mais de duas décadas dedicadas à Justiça Trabalhista. Mas a escrita sempre fez parte de sua vida, mesmo quando era mesclada ao universo jurídico. “Hoje, com dedicação exclusiva, posso me dar ao luxo de ler sobre temas diferentes que despertavam minha curiosidade”, afirma.
Com a leitura não foi diferente. “Na verdade, a paixão pela leitura veio na infância, quando ainda morava no meio rural de Boa Vista do Buricá, uma pequena cidade no noroeste do estado. Como era de uma família muito humilde, me foi apresentado o primeiro livro nos primeiros dias de aula. Aliás, além de aprender a ler em português, tinha que aprender a falar em português, pois meus pais eram agricultores germânicos.”
Um dos livros que mais marcaram sua vida é o “Pêndulo do Relógio”, de autoria do escritor gaúcho Charles Kiefer. “Esse livro despertou o meu sonho de ser escritor. Quando a professora que indicou o livro disse que se tratava de um escritor nascido em Três de Maio, cidade vizinha à minha terra natal, pensei: se ele conseguiu ser escritor eu também posso”, relembra.
“Chegando em casa, procurei o seu endereço e só havia da editora, mesmo assim escrevi uma cartinha contando do meu sonho e do meu gosto pela leitura. Para minha surpresa, algumas semanas depois recebi mais de uma dezena de livros de presente com uma cartinha. Nesta carta que tinha o timbre da editora uma frase me marcou e serve de lição de vida para mim: ‘se você sonha em ser um escritor então leia, leia muito, leia muito mesmo, nem que seja bula de remédio, mas leia’.”
Problematizando os preconceitos
Após publicar quatro livros, mesmo sem um processo criativo disciplinado, Ari ainda tem muito assunto para materializar nas páginas, entre eles, sobre o cotidiano das pessoas com alguma deficiência. Enquanto cadeirante, por conta de uma paralisia infantil, ele resolveu lançar o último livro, “Pé na Estrada”, para o público infanto-juvenil. “A criança nasce e cresce nos primeiros anos sem preconceitos e é na adolescência que começam a surgir os ‘pré-conceitos’. Você imagina encher as bibliotecas de livros contando que todos temos as diferenças, mas acima de tudo somos todos iguais, sem distinção de crença, raça, físico… Pois esta é a minha ideia”, explica.
“No livro, eu narro a aventura de um pai deficiente com seu filho não deficiente. As crianças que leram o meu livro não perceberam que o pai era deficiente, porém os adultos me diziam: ‘poxa, que força de vontade tua, mesmo deficiente fez isso para o teu filho e eu bem das pernas nunca fiz’. Isso é transformar. Isso é construir uma sociedade sem preconceitos ou com menos preconceitos. Infelizmente os escritores não têm tido o reconhecimento que realmente merecem, mas isto não me desmotiva de continuar escrevendo.”
Para entrar em contato com o escritor e adquirir uma das obras, envie e-mail para escritorariheck@terra.com.br ou acesse o site do servidor.
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