Memórias da infância marcam poesia de Taciana Fernandes
Taciana Tomaim Fernandes gosta de escrever desde os sete anos. Seus temas preferidos estão ligados aos muitos cachorrinhos criados por ela. “Gosto de temas que inspiram emoções”, diz.
“Desde de que me aposentei por invalidez, me detenho a observar a natureza, os animais, o que a vida nos apresenta e o que se pode captar de belo e assim poder criar uma estória que nos encante”, conta a ex-servidora do TRT de Campinas.
Quatro patas e o mistério do quadro da bailarina é um exemplo disso. Vamos conferir?
QUATRO PATAS E O MISTÉRIO DO QUADRO DA BAILARINA
Era um quadro bem antigo
Que encontrei no meio do entulho
Num lugar da cidade
Onde os carroceiros jogavam o lixo…
Era feito de madeira
Numa pintura muito delicada
Onde uma menina bailava
Vestida à moda antiga
Cheia de rendas, enfeitada
Sorrindo, travessa
Querendo mostrar seus dotes
Um pezinho só no chão
Firmava o corpo inteiro
O outro pezinho no ar
Com uma das mãos
Puxando o vestido…
QUATRO PATAS E O MISTÉRIO DO QUADRO DA BAILARINA
Era um quadro bem antigo
Que encontrei no meio do entulho
Num lugar da cidade
Onde os carroceiros jogavam o lixo…
Era feito de madeira
Numa pintura muito delicada
Onde uma menina bailava
Vestida à moda antiga
Cheia de rendas, enfeitada
Sorrindo, travessa
Querendo mostrar seus dotes
Um pezinho só no chão
Firmava o corpo inteiro
O outro pezinho no ar
Com uma das mãos
Puxando o vestido…
Uma dúvida no ar
E eu não parava de pensar
Como pode um retrato
feito a mão
Tão bem delineado
Em cada ponto, cada traço
No lixo ir parar?
Pendendo daquela madeira
Vinha uma argola de metal
E amarrando-a na carroça
Bem do lado direito
Por onde eu fosse agora estava
Minha bailarina a saudar
Todos que a vissem passar!
Eu levava material de construção
Pra todo lado da cidade
Casa de rico, de pobre
Sempre ia entregar
Cimento, areia, argamassa
O que meu patrão mandar…
Até que um dia, passando numa rua
Em frente uma dessas mansões
Abandonadas, já sem jardim
Onde se podia ver
Das rosas que existiram
Uns raros e pequenos botões
Que, teimosos desabrochavam
Por entre a grade dos portões
Que já enferrujados
E tomados pelo mato
Só demonstravam a ausência
Dos que foram ali
Donos, patrões
Abastados
Vi, por entre a folhagem
Uma cadela, velhinha
Encostada também na grade,
A esperar,
Sem ânimo nem alegria
Mas que na minha presença
Se assustou, olhando pra carroça,
No que eu só podia imaginar,
Fome talvez
Pelo cheiro do sanduíche
Que eu guardava
Pra comer mais tarde…
Mas, o desespero dela
Tão grande, tão estranho
Olhando pro meu quadro
Onde a bailarina parecia saudar
Uma antiga amiga
Do seu passado
Eis que a cadela pula
Bem do meu lado
E com os dentes arranca
a argola do meu quadro……
Quando vi aquilo
Parei a carroça
Amarrei numa árvore
Pro cavalo não fugir
E pra dentro da mansão
Corri atrás da cachorra…
Gostei daquele quadro!
Passei pelo antigo jardim
Subi uma escadaria
Que, Deus do céu, não sabia
Parecia não ter fim!
Com um teto desmoronando,
E a força do tempo arrombando
A casa parecia ao relento,
De muitas primaveras
Dando medo, com certeza
De sofrer um acidente
Num local tão abandonado…
Andei por um tempo ali
E de todos os cômodos
Nenhum tipo de abrigo
Ali… encontrei…
Restos de louças de porcelana
Cortinas, paredes desenhadas
Esculturas até nas escadas
Que mundo foi esse, eu pensava
Onde foram parar
As pessoas que aqui,
Um dia moraram???
Pois quando adentrei um dos quartos
E na penteadeira avistei
Um grande e antigo álbum
Com as folhas amareladas
Vi, a mesma menina do quadro,
Feliz, correndo a abraçar
Uma cachorrinha espevitada
E que agora, pensando bem
Era a mesma,
A que me roubou o quadro…….
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