Uma vida rodeada de palavras
Amante das palavras, a vida acadêmica de José Antônio Callegari começou com a faculdade de letras antes de formar-se em direito. Mesmo sem concluir o curso, os textos carregados de significado não deixaram de fazer parte de sua vida mesmo quando tornou-se servidor do TRT da 1ª Região.
Nascido em Cachoeira de Itapemirim, Espirito Santo, mesma cidade que Rubem Braga, famoso pelas crônicas que rodaram o país na década de 30, os textos do autor inspiraram o gosto pela crônica. “Lia muitas, além de romances e poesias. Agora escrevo crônicas, poesias e ainda artigos jurídicos, pois faço mestrado em Sociologia e Direito e Doutorado em Direito”, conta José.
O servidor tem muitos de seus textos publicados no site Recanto das Letras, que reúne a produção de inúmeros escritores.
José Callegari compartilha aqui a crônica “Fragmentos”.
Fragmentos
Vivendo em sociedades complexas, nem sempre percebemos o quanto é fragmentada a nossa existência.
Ao rompermos a bolsa placentária, iniciamos um processo de fragmentação crescente.
As escolhas, a “escola”, a vida e muito mais nos fragmentam aos poucos.
Somos, com o tempo, um pouco do que a sociedade acha que devemos ser e por aí vai…
Passamos a ser pedaços de especializações e os fragmentos das profissões que “escolhemos” parecem que somos nós.
Quando nos damos conta disto, estamos catalogando cada fragmento de nossas relações: com os filhos, a mulher, o marido, os amigos e etc.
Por que somos fragmentados assim?
Quem desta forma nos fragmenta cotidianamente?
Como fragmentos humanos, estilhaçamos a nossa existência com dogmas, preconceitos, discriminações e intolerâncias que são pedaços do nosso ser “despossuído” de identidade.
Neste mosaico de estilhaços, o desejo de nos comunicar é uma forma de reordenar ou desordenar de vez estes fragmentos.
Comunicar é, pois, suprir a necessidade de falar com alguém e resgatar a plenitude do nosso ser. Nem sempre de forma direta nos comunicamos com o outro. Às vezes, a uma distância confortável, longe do aparte e do calor do debate; outras vezes, a uma “incômoda” proximidade física, no debate sincero e de plano, que enriquece quem pensa e se comunica com honestidade de propósitos. Por isso, o calor humano nos faz falta. A comunicação aquece a alma, veicula nossa espiritualidade, nos faz feliz.
Assim sendo, quando se encontra alguém que nos permite agrupar os fragmentos que somos, num texto, numa participação oral, por qualquer meio de comunicação, transmitindo uma reflexão aos nossos semelhantes, devemos agradecer o acolhimento do ouvido amigo, generoso e gentil.
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