O pai, a filha e o balão, por Bartolomeu Feitosa
Profissionais ou amadores, os escritores estão sempre em destaque no Espaço Cultural da ANAJUSTRA. Em cada participação, um novo talento e uma nova temática. E a cada texto, novas emoções vivenciadas. É assim com “O pai, a filha e o balão”, crônica de Bartolomeu Cardoso Feitosa, técnico judiciário do TRT da 16ª Região há 18 anos.
Ao descrever uma cena quase que corriqueira, o conto de Feitosa revela nuances da relação entre pai e filhos, conseqüências e ligações que estão por trás dela. Como gênero narrativo, é isso que a crônica reserva. Relatos do cotidiano, pintados pelas mãos de quem tem a escrita como arte.
Feitosa ainda não tem nenhum livro publicado, mas guarda seus textos (poesias e crônicas) para quem sabe, num futuro vê-los pintados em uma publicação.
Que bom seria se todas as vezes em que os filhos vissem os pais seus olhos brilhassem tanto quanto os daquela menina ao olhar o balão! Que bom seria se a imagem de um pai estivesse sempre acompanhada de boas recordações como aquelas que o balão a fez recordar: momentos de alegria, amizade, muito carinho, sorrisos, afeto etc. Melhor seria ainda se a imagem do pai nunca estivesse vinculada a sofrimentos de espécie alguma, nenhuma agressão, nenhuma dor, nenhuma tristeza e nenhum constrangimento (Trecho de “O pai, a filha e o balão) |
Confira a íntegra da crônica
O PAI, A FILHA E O BALÃO
Era mais um daqueles dias de rotina: acordar às 05h, tomar banho, tomar café, levar as crianças ao colégio e, em seguida, ir para o trabalho. O trânsito, como sempre, estava intenso logo às 06:45. Num determinado momento, com o sinal fechado, pude observar à minha frente um motoqueiro com uma criança na garupa, ambos com capacetes, como é o correto. Ela, uma menina de aproximadamente oito anos, ele, talvez com trinta. De repente, à nossa frente, do lado direito, apareceu um pequeno balão verde, já meio murcho, mas ainda fácil de ser levado pelo vento. Naquele momento, os olhos da menina se voltaram para aquele objeto mágico, digo mágico pelo poder de atração que o mesmo exercia sobre aquela criança. Ela fixou seus olhos naquele pequeno brinquedo e parecia não querer perdê-lo de vista.
O sinal abriu, o trânsito começou a fluir, e seu pai começou a deslocar-se vagarosamente, acompanhando a movimentação dos outros veículos. Porém, ela não queria sair daquele local e, lentamente, foi virando sua cabeça para o lado, mantendo fixo o olhar no balão que teimava em continuar no mesmo lugar. Eu fiquei encantado com aquela cena e comecei a fazer questionamentos: – o que tinha de especial aquele objeto que atraía tanto aquela criança? Qual o segredo para tanto fascínio? Após refletir por alguns instantes, cheguei a algumas conclusões: com certeza a imagem do balão estava relacionada a fatos agradáveis e a bons momentos vividos que valiam a pena serem recordados. Naturalmente, tentamos apagar de nossa mente aquelas lembranças que nos remetem a fatos desagradáveis ou que nos causaram dor e sofrimento. Mas, e o balão? Ah, esse sim nos traz boas recordações. O balão lembra festa, alegria, amigos, carinhos, muitos carinhos, afagos, beijinhos, presentes, guloseimas, roupas novas, novos amigos, brincadeiras, enfim, tudo de bom como dizem as crianças.
Aquela menina, com certeza, fez em alguns segundos uma volta ao passado, por sinal bem recente, lembrando-se de momentos felizes, e essas lembranças lhe causaram tamanha sensação de prazer e bem-estar que ela não queria de maneira alguma afastar-se daquele lugar. Lembrou-se dos seus aniversários e dos aniversários dos familiares e amigos. Lembrou também as festinhas no colégio, no condomínio, em locais diversos, etc. Eu então me perguntei: será que existiria alguma outra coisa ou alguém que despertasse naquela criança o mesmo sentimento? Se existisse esse alguém, que bom seria se fosse o próprio pai. Que bom seria se todas as vezes em que os filhos vissem os pais seus olhos brilhassem tanto quanto os daquela menina ao olhar o balão! Que bom seria se a imagem de um pai estivesse sempre acompanhada de boas recordações como aquelas que o balão a fez recordar: momentos de alegria, amizade, muito carinho, sorrisos, afeto etc. Melhor seria ainda se a imagem do pai nunca estivesse vinculada a sofrimentos de espécie alguma, nenhuma agressão, nenhuma dor, nenhuma tristeza e nenhum constrangimento.
Nós pais, devemos sim educar, orientar e até repreender quando necessário, porém sem nunca deixar de ser o balão na vida de nossos filhos.
Tio Beto
São Luís, 12 de maio de 2009
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