Poeta e servidor do TRT5 representa o Brasil em evento de escritores na Colômbia
“Poesia é voar fora da asa.” Essa definição do poeta mato-grossense Manoel de Barros é válida para o jornalista e servidor do TRT5, Valdeck Almeida de Jesus, que adotou a literatura desde a infância como uma alternativa para a escassez material vivida por ele e pela família. Se nos primeiros anos de vida faltou o “básico” como roupa, alimentação e remédio, sobrou muita imaginação e leitura. “Minha família apoiava mas nem sempre entendia o que eu escrevia, pois na poesia tem sempre muita metáfora, mas eu guardava tudo com o maior cuidado e hoje tenho cerca de dois mil poemas inéditos, pensamentos, histórias infantis, contos e crônicas à espera do nascimento em livro”, afirma.
O voo de Valdeck na poesia é livre e a criação é libertária, como ele define. “A literatura é uma válvula de escape. É um exercício árduo, pois o condicionamento do trabalho quase sempre quer me engessar, criar passo a passo na minha poesia. Quando percebo isso, digo ‘epa’ e retomo a rédea da criação. Eu tento me entrincheirar na arte, senão perco o rumo do que é ser vivente e dono da minha liberdade.”
Apesar de não viver somente da escrita, “o que é um sonho que acalento”, revela o jornalista, ele atua profissionalmente há dez anos e compartilha a sua “lida com livros e literatura” com crianças e adolescentes da periferia de Salvador. Os jovens, inclusive, já lançaram um livro editado por Valdeck e selecionado pela Secretaria de Cultura da Bahia para ser publicado. “Este livro foi lançado na Biblioteca Comunitária do Calabar, com a participação dos autores e familiares, teve grande repercussão nos maiores jornais do estado e nos principais canais de televisão. O livro foi lançado em 2013 no Salão do Livro e da Imprensa de Genebra, na Suíça, o que deu muita visibilidade e elevou a auto estima da garotada do bairro. Eu me orgulho muito disso”, disse.
No bairro Sussuarana, também na periferia da capital baiana, as criações poéticas dos adolescentes foram publicadas em dois livros: “um deles ‘Poesias quebradas de quebra: O diferencial da favela’, resultado do edital Arte por toda parte, da Fundação Gregório de Matos e Prefeitura Municipal de Salvador. Outro livro é o ‘A poesia cria asas’, do Grupo Ágape, formado por adolescentes também de Sussuarana e participantes do Sarau da Onça, que também fez muito sucesso. O primeiro se esgotou rapidamente. O segundo lancei em Genebra e tem me dado muita alegria, por conta da qualidade e dos temas dos textos, que falam de luta contra o racismo, discriminação social, abandono da periferia da cidade e, ao mesmo tempo, traz mensagens de esperança e de autoestima para a juventude, conclamando cada um dos leitores a se juntarem à luta por respeito e superação.”
Para ele, seguir receitas, manuais ou fórmulas não é o melhor caminho para a escrita que deve ser original, acima de qualquer regra. “Tem que estudar muito o assunto do qual vai falar, se manter atualizado nas rodas de amigos, frequentar ambientes onde se discuta literatura, saraus de poesia etc. No mínimo você não fica entediado por falta de assunto. E é necessário encarar a sua arte como algo especial, não adianta nada se dizer escritor sem ter respeito pela arte da escrita, sem sentir um friozinho na barriga e a vontade de se jogar no precipício de uma folha em branco. Tem que ter coragem, muita coragem”, explica.
Talvez seja por isso que as ideias para novos livros ou projetos surgem espontaneamente, já que o servidor não pré-determinou regras para preencher os espaços em branco do papel. “Tem um livro de crônicas que escrevo e reescrevo há cinco anos e não sei quando o terminarei… Já me ocorreu de escrever um livro inteiro em uma viagem de uma semana ao exterior, quando eu parava em uma praça, um bar ou mesmo num ônibus e começava a rabiscar. Tem um poema que fiz enquanto dirigia numa autoestrada, anotando palavras soltas no telefone celular. Não tenho uma receita, um roteiro pré definido. Posso parar um almoço e correr pro caderno, como posso sentar para produzir e depois de horas não conseguir fazer nada… Mas, essencialmente, não escrevo por encomenda, não consigo produzir sem um start emocional, algo tem que me seduzir, me tocar, me abalar, pro bem ou pro mal.”
A inspiração para a escrita vem de nomes consagrados como Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e outros nem tanto, como os “meninos e meninas do Sarau da Onça e do Grupo Ágape”. O último livro de Valdeck “Poesias ao vento: vinte poemas de amor e uma crônica desesperada” será apresentado na próxima semana, entre os dias 12 e 15 de agosto, no XIII Parlamento Nacional de Escritores da Colômbia, em Cartagena das Índias. Nesse livro, os poemas e a crônica registram impressões de um amor que dura uma eternidade. O servidor vai representar a União Baiana de Escritores (Ubesc) e os meninos e meninas dos grupos Sarau de Onça e Ágape que aprendem a “voar fora da asa” junto com ele.
Para conhecer um pouco mais das criações de Valdeck, acesse o blog administrado por ele, “Galinha Pulando”, e confira abaixo dois poemas, um editado pelo servidor e outro de sua autoria. Para manter contato com o poeta, envie e-mail para poeta.baiano@gmail.com ou acesse os perfis de Valdeck no Twitter ou no Facebook.
A Poesia Cria Asas – Grupo Ágape “Resgatando pelos versos”
A periferia é um laboratório de poetas, escritores, músicos e uma variedade de artistas.
Estes jovens não se conformam em permanecer passivos, vendo as coisas acontecerem à revelia de sua vontade de viver. Seus encontros se traduzem no pensar e agir da sua própria história.
Cultura, juventude, violência, periferia, educação, saúde e negritude são temas abordados em meio às rimas e versos destes jovens.
“Amor incondicional” é o significado do nome do grupo que busca desenvolver na juventude o pensamento crítico, através dos versos.
Elisane Alves – Grupo Ágape
Procura-se poeta
Paga-se bem
Para carregar
caixas de livros
nas costas
tomar sol
em feiras e praças
sorrir e alegrar
a vida de
quem precisa
precisa-se
de poeta
que saiba rimar
amor com alegria
não reclame
do salário
não me deixe
solitário
e, se precisar
me ponha
pra dormir
com canção
de ninar
Valdeck Almeida de Jesus
Salvador-BA, 25 de novembro de 2013
“Poesia é voar fora da asa.” Essa definição do poeta mato-grossense Manoel de Barros é válida para o jornalista e servidor do TRT5, Valdeck Almeida de Jesus, que adotou a literatura desde a infância como uma alternativa para a escassez material vivida por ele e pela família. Se nos primeiros anos de vida faltou o “básico” como roupa, alimentação e remédio, sobrou muita imaginação e leitura. “Minha família apoiava mas nem sempre entendia o que eu escrevia, pois na poesia tem sempre muita metáfora, mas eu guardava tudo com o maior cuidado e hoje tenho cerca de dois mil poemas inéditos, pensamentos, histórias infantis, contos e crônicas à espera do nascimento em livro”, afirma.
O voo de Valdeck na poesia é livre e a criação é libertária, como ele define. “A literatura é uma válvula de escape. É um exercício árduo, pois o condicionamento do trabalho quase sempre quer me engessar, criar passo a passo na minha poesia. Quando percebo isso, digo ‘epa’ e retomo a rédea da criação. Eu tento me entrincheirar na arte, senão perco o rumo do que é ser vivente e dono da minha liberdade.”
Apesar de não viver somente da escrita, “o que é um sonho que acalento”, revela o jornalista, ele atua profissionalmente há dez anos e compartilha a sua “lida com livros e literatura” com crianças e adolescentes da periferia de Salvador. Os jovens, inclusive, já lançaram um livro editado por Valdeck e selecionado pela Secretaria de Cultura da Bahia para ser publicado. “Este livro foi lançado na Biblioteca Comunitária do Calabar, com a participação dos autores e familiares, teve grande repercussão nos maiores jornais do estado e nos principais canais de televisão. O livro foi lançado em 2013 no Salão do Livro e da Imprensa de Genebra, na Suíça, o que deu muita visibilidade e elevou a auto estima da garotada do bairro. Eu me orgulho muito disso”, disse.
No bairro Sussuarana, também na periferia da capital baiana, as criações poéticas dos adolescentes foram publicadas em dois livros: “um deles ‘Poesias quebradas de quebra: O diferencial da favela’, resultado do edital Arte por toda parte, da Fundação Gregório de Matos e Prefeitura Municipal de Salvador. Outro livro é o ‘A poesia cria asas’, do Grupo Ágape, formado por adolescentes também de Sussuarana e participantes do Sarau da Onça, que também fez muito sucesso. O primeiro se esgotou rapidamente. O segundo lancei em Genebra e tem me dado muita alegria, por conta da qualidade e dos temas dos textos, que falam de luta contra o racismo, discriminação social, abandono da periferia da cidade e, ao mesmo tempo, traz mensagens de esperança e de autoestima para a juventude, conclamando cada um dos leitores a se juntarem à luta por respeito e superação.”
Para ele, seguir receitas, manuais ou fórmulas não é o melhor caminho para a escrita que deve ser original, acima de qualquer regra. “Tem que estudar muito o assunto do qual vai falar, se manter atualizado nas rodas de amigos, frequentar ambientes onde se discuta literatura, saraus de poesia etc. No mínimo você não fica entediado por falta de assunto. E é necessário encarar a sua arte como algo especial, não adianta nada se dizer escritor sem ter respeito pela arte da escrita, sem sentir um friozinho na barriga e a vontade de se jogar no precipício de uma folha em branco. Tem que ter coragem, muita coragem”, explica.
Talvez seja por isso que as ideias para novos livros ou projetos surgem espontaneamente, já que o servidor não pré-determinou regras para preencher os espaços em branco do papel. “Tem um livro de crônicas que escrevo e reescrevo há cinco anos e não sei quando o terminarei… Já me ocorreu de escrever um livro inteiro em uma viagem de uma semana ao exterior, quando eu parava em uma praça, um bar ou mesmo num ônibus e começava a rabiscar. Tem um poema que fiz enquanto dirigia numa autoestrada, anotando palavras soltas no telefone celular. Não tenho uma receita, um roteiro pré definido. Posso parar um almoço e correr pro caderno, como posso sentar para produzir e depois de horas não conseguir fazer nada… Mas, essencialmente, não escrevo por encomenda, não consigo produzir sem um start emocional, algo tem que me seduzir, me tocar, me abalar, pro bem ou pro mal.”
A inspiração para a escrita vem de nomes consagrados como Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e outros nem tanto, como os “meninos e meninas do Sarau da Onça e do Grupo Ágape”. O último livro de Valdeck “Poesias ao vento: vinte poemas de amor e uma crônica desesperada” será apresentado na próxima semana, entre os dias 12 e 15 de agosto, no XIII Parlamento Nacional de Escritores da Colômbia, em Cartagena das Índias. Nesse livro, os poemas e a crônica registram impressões de um amor que dura uma eternidade. O servidor vai representar a União Baiana de Escritores (Ubesc) e os meninos e meninas dos grupos Sarau de Onça e Ágape que aprendem a “voar fora da asa” junto com ele.
Para conhecer um pouco mais das criações de Valdeck, acesse o blog administrado por ele, “Galinha Pulando”, e confira abaixo dois poemas, um editado pelo servidor e outro de sua autoria. Para manter contato com o poeta, envie e-mail para poeta.baiano@gmail.com ou acesse os perfis de Valdeck no Twitter ou no Facebook.
A Poesia Cria Asas – Grupo Ágape “Resgatando pelos versos”
A periferia é um laboratório de poetas, escritores, músicos e uma variedade de artistas.
Estes jovens não se conformam em permanecer passivos, vendo as coisas acontecerem à revelia de sua vontade de viver. Seus encontros se traduzem no pensar e agir da sua própria história.
Cultura, juventude, violência, periferia, educação, saúde e negritude são temas abordados em meio às rimas e versos destes jovens.
“Amor incondicional” é o significado do nome do grupo que busca desenvolver na juventude o pensamento crítico, através dos versos.
Elisane Alves – Grupo Ágape
Procura-se poeta
Paga-se bem
Para carregar
caixas de livros
nas costas
tomar sol
em feiras e praças
sorrir e alegrar
a vida de
quem precisa
precisa-se
de poeta
que saiba rimar
amor com alegria
não reclame
do salário
não me deixe
solitário
e, se precisar
me ponha
pra dormir
com canção
de ninar
Valdeck Almeida de Jesus
Salvador-BA, 25 de novembro de 2013
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