Servidor declama poema durante cerimônia de aposentadoria
J.C. Ramos Filho se despediu do TRT12 ao lado de servidores e desembargadores.
Em 2018, João da Cruz Ramos Filho finalizou sua jornada de trabalho na 2ª Vara do Trabalho de Itajaí (SC), após mais de três décadas dedicadas à JT.
Para celebrar a nova fase, o TRT12 realizou a 11ª Cerimônia de Aposentadoria, em Florianópolis, no dia 16/5, com a presença de familiares e amigos dos 25 servidores e desembargadores homenageados que receberam uma árvore da felicidade como lembrança.
Na ocasião, J.C. Ramos Filho, que também é poeta, leu a sua criação inédita “O Aposentado” para os homenageados. Na foto, João com as desembargadoras Dra. Lília Leonor Abreu, do lado esquerdo, e a presidenta do TRT12, Dra. Mari Eleda Migliorini.
Confira abaixo o poema completo:
O Aposentado
Em tese, na fábrica, foi a última vez que ele escutou o apito que
chegava aos seus ouvidos como uma voz suave, convidando-o
para mais um dia de trabalho.
Na indústria, foi a última vez que ficou de frente com a fumaça
da chaminé que por muitos anos fez parte de seu panorama
diário. Na mina, foi a última vez que sentiu o cheiro de enxofre,
muito embora esse cheiro se confundisse com outros aromas
pelo resto de sua vida.
No Tribunal, foi a última vez que bateu o martelo e proferiu uma
sentença. Sempre com a convicção de ter feito justiça, coroando
a sua função pública especializada. De quando em vez, com a
nítida impressão que acabara de deglutir um bolo metade doce,
metade amargo.
Nos Correios, foi a última vez que saiu para entregar cartas e
ficou a imaginar: quantas coisas estranhas, alegres, românticas,
tristes e surpreendentes fizera chegar até as pessoas em todos
aqueles anos de trabalho.
Na empresa encarregada da limpeza urbana, foi a última vez que
conduziu o lixo para o caminhão triturador; lixo que conhecia
muito bem, e que era bem significativo para quem o recolhia,
pois há pessoas que jogam no lixo qualquer coisa ? pasmem
vocês, até mesmo os próprios filhos. E, não obstante, conseguem
perceber que o pior lixo geralmente está dentro delas mesmas.
Na escola, foi a última vez que colaborou para formar uma turma
e rezou baixinho pedindo a Deus que, daqui a alguns anos,
encontrasse alguns de seus alunos transformados em operário,
industriário, mineiro, funcionário público, carteiro, gari ou
mesmo professor. Ficaria feliz se soubesse que todos estavam
desempenhando suas funções com prazer, dedicação e
dignidade, pois, na opinião daquele professor aposentado, todas
as profissões deveriam ser exercidas com tais atributos.
Assim parece agir aquele que se despede de seu ambiente de
trabalho, ao se embrenhar no mundo desconhecido da
aposentadoria. Mesmo que isso apenas signifique mudar de
atividade ou ambiente. É como disse Heráclito:
“O homem que volta ao mesmo rio, nem o rio é o mesmo rio,
nem o homem é o mesmo homem”.
Com estas palavras, faço uma singela homenagem a todas e a
todos as(os) colegas de trabalho e às(aos) juízas e juízes que,
como eu, têm a forte sensação de seu mister cumprido. E
aproveito o ensejo para também homenagear todas as pessoas
que estão sendo contempladas com esse benefício,
independentemente de suas profissões, mas sim pela
prerrogativa. Benefício esse que, infelizmente, está ficando cada
vez mais difícil de ser conquistado, que é a tão sonhada
aposentadoria.
Desejo a nós, aposentados de hoje, que ao virarmos essa página
do livro de nossas histórias, onde figuramos às vezes como
protagonistas ou coadjuvantes, possamos seguir, no mínimo,
cheios de gratidão e orgulho por pertencermos à “família”
Justiça do Trabalho, pois tudo isso nos dará força e entusiasmo
para ainda escrever outras histórias em nossas vidas ou ao
menos servirão para ilustrar um magnífico livro de recordações.
Parabéns a todas e a todos. Feliz aposentadoria!
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