Em Jacareí, servidores conciliam o trabalho com a música, a literatura e a defesa dos animais

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A Justiça do Trabalho de Jacareí, no Vale do Paraíba, abrange os municípios de Santa Branca e Igaratá, totalizando cerca de 247 mil pessoas atendidas pelo Fórum Trabalhista, que fica na rua 3 de Abril e inclui duas varas do trabalho (VTs), além da Central de Mandados, onde militam os oficiais de justiça, e da Coordenadoria de Distribuição de Feitos (CDF).

Em seu quadro de funcionários alguns servidores conciliam o trabalho com a paixão pela música, a literatura e a defesa dos animais. Conheça um pouco da história de cada um deles.

Energia de menina

Maria Ilda de Andrade Pires, 30 anos de Justiça do Trabalho, é servidora da 1ª VT de Jacareí. Nascida em Santa Branca, lá mesmo no Vale do Paraíba, formada em direito e orgulhosa de seus 64 anos.

A servidora ainda lembra de como conquistou a vaga. Ante a famosa pergunta “quando você pode começar?”, vinda do futuro patrão, ela não titubeou e emendou um “agora!” num tom firme de quem tem por lema “ver a vida de maneira positiva”, como assegura Maria.

Foi para contar um pouco dessa trajetória encarada de maneira afirmativa que ela escreveu “A Caminho da Luz”, livro que reúne uma coletânea de textos que “passam a limpo” a história da autora, como ela mesma diz. A obra foi lançada de forma independente em 2003. “Tudo em minha vida vem como um desafio, para eu ir além”, sublinha Maria Ilda, que, depois de encerrar sua carreira na JT – a aposentadoria deve ocorrer ainda este ano –, pretende retomar o ofício de escritora.

Criada na música

Mineira de Itajubá, Maria do Carmo Noronha Serpa, da CDF de Jacareí, completou 10 anos na JT da 15ª em junho passado. Nesse período, cursou pedagogia, investindo numa antiga vocação: lecionar. Formada também em piano e em educação musical pelo Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitschek de Oliveira, de Pouso Alegre, MG, ela começou a ensinar em sua casa, em 1974.

O rol de alunos de Maria do Carmo incluía pessoas dos cinco anos à meia-idade e, além do piano clássico, ela ensinava violão e teclado no estilo popular. Beethoven, Villa Lobos, Ernesto Nazareth e Tom Jobim estão entre os seus músicos favoritos, mas ela também não dispensa Caetano e Chico, “tanto na música quanto na poesia”.

A atividade musical, aliás, que Maria do Carmo iniciou muito cedo, aos seis anos, em seus primeiros acordes como aluna de piano, rendeu-lhe características que ultrapassaram as fronteiras da música, repercutindo inclusive em sua rotina na Justiça do Trabalho. “A disciplina necessária ao estudo da música eu trouxe aqui para a JT. Graças a isso eu consigo me organizar para trabalhar de maneira mais eficiente”, assegura Maria do Carmo, para quem a música concretiza de forma robusta o conceito de “unir o útil ao agradável”.

O ingresso no serviço público, no entanto, privou a servidora de tempo para se dedicar ao ensino do piano e companhia, paixão que, com a aposentadoria que já se avizinha, Maria do Carmo pretende retomar. “Muita gente me procura”, garante ela, orgulhosa. Por outro lado, a servidora, que já concluiu, inclusive, uma pós-graduação em direito do trabalho e processo do trabalho, encontrou na JT outra fonte de satisfação. “Sinto-me realizada trabalhando aqui.”

Discípula de Francisco de Assis

Simara Kinupe de Moraes nasceu em Volta Redonda, no sul do Estado do Rio de Janeiro. Ela está na JT da 15ª desde maio de 2005 em Jacareí. Na época, o município possuía apenas uma vara do trabalho. Hoje, Simara é a mais antiga da equipe de servidores da 2ª VT da cidade e exerce a função de assistente de cálculos.

Em 2011, dois cachorrinhos deixados na casa onde funciona a CDF do Fórum Trabalhista deram origem a um trabalho que Simara não largou mais. Desde então, ela é voluntária no Clube Amigo Vira-Lata (CAV) de São José dos Campos (cidade onde Simara reside). A entidade resgata cães e gatos abandonados e os encaminha para adoção. De 2006 a 2013, foram adotados, graças ao trabalho do CAV, cerca de 3.600 animais.

O trabalho dos voluntários é cuidar dos bichos resgatados até que eles estejam em condição de serem adotados. Os candidatos a fazer parte de uma família são levados aos Centros de Adoção (confira os endereços em clubeamigoviralata.com.br) tratados de qualquer doença de pele, comuns em casos de abandono, bem como vermifugados e não sem antes tomar um belo banho, para ficarem devidamente “apresentáveis” aos seus futuros “mamães, papais e irmãos”.

Simara calcula já ter salvo do abandono mais de 20 cachorros. Dois deles, Negão e Lara, ambos com 7 anos atualmente, simplesmente “se recusaram a me deixar”, brinca ela, e se juntaram a Emma, 11 anos, como parte da família da servidora, que sofre com a forma como o bicho-homem não raramente trata outras espécies. “A posse irresponsável é o problema”, denuncia.

“A vida inteira tive cachorros”, observa Simara. Ela se lembra especialmente de Perebas, que lhe surgiu um dia muito doente e totalmente estressado. “Nem dava para ver que era um poodle, de tanta sarna”, recorda ela. Mas o sortudo Perebas se recuperou e, até falecer, seis anos mais tarde, foi mais um dos inseparáveis companheiros de Simara.

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