TacTic: A crônica singular de Vlademir Suato
Associado do TRT15 aborda a importância de ser autêntico.
A não conformidade e a busca por identidade em um ambiente que valoriza a uniformidade é tema central da crônica escrita pelo servidor do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT15), Vlademir Suato. Usando a metáfora de um relógio que marca o tempo de forma diferente, a narrativa explora o impacto e os desafios enfrentados por aqueles que não se encaixam nos padrões estabelecidos.
Boa leitura!
TACTIC
Não foi na Suíça que o caso se deu. Conta-se que foi numa cidadezinha do interior de um certo Estadozão. Naquela fabriqueta de marcadores do tempo, olha só, produziram aquela lindeza de relógio de parede. Ainda filhote de relógio, já se impregnava de formosura. Não se sabe se por descuido ou por cuidado demais na fabricação, o danado batia diferente: o som de sua força era suavemente marcado de lá pra cá, não de tic pra tac, mas de tac pra tic.
A comoção não tardou para escalar e a questão se impor: o que fazer com TacTic? Enquanto o time todo no tic, ele no tac, não há grupo que se firme e gol que se realize. O que fazer com TacTic?
E lá vai ele, com ponteiros ainda frágeis, com dificuldades para compreender o tempo, em passinhos miúdos e lancheira feita, para o convívio com ponteiros rígidos, fortes, que têm conhecimento para lhe transmitir tudo o que um relógio precisa saber para contribuir para a paz social em um mundo justo e do bem…
Que surpresa! Na escola, TacTic percebe que o mundo é tic tac. Eita? O que fazer comigo?
No planejamento arquitetônico daquelas carteiras firmemente enfileiradas, o corredor só acolhia aqueles da ordem dos tic tacs, e eram proibidos quaisquer sintomas de TacTic. Mas então, o que fazer com TacTic?
Forjado com tantos “não ser” vociferados pela trilha comum, ele teimava… Mas a morsa, que violentamente espreme, também dá sustentação.
Encorpando-se, começa a perceber seus ponteiros. Amedronta-se com o meio-dia, com três e quinze ou quinze pras nove… Ponteiros sobrepostos… G(ó)zo! Aliviava-se ao pular de vinte e três horas e cinquenta e nove minutos para meia-noite. Vinte e quatro feria demais…
Mas o que fazer com o TacTic? Na orquestra, desarmonizava. Na parede, confundia o tempo em um mundo que prima pelo ordinário.
Cresceu e descobriu a loucura do meio-dia em ponto, zero segundos, quando lhe colocaram o ponteiro dos segundos…
Mas enfim, o que fazer com o TacTic? Nada, oras, ele faz o que ele quiser com ele mesmo; você não participa disso se ele não chamar.
Vlad Suato
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