A cerimônia de abertura
Associado do TRT18 compartilha crônica sobre as Olimpíadas em Paris.
Ah! Deixem-me antecipar. São as antecipações que dão aquela pitada onírica e floreiam de expectativa o que virá pela frente.
Vejo uma linda arquibancada montada às margens do Sena. Pessoas começam a chegar calmamente. Lá no começo, bem onde a história começa a ser escrita, um senhor grisalho e de barba farta e aparada escreve sua própria estória. Chego bem perto, como se eu fosse um drone (mistura poética de passado e presente). Redige um livro cuja capa já está pronta. Chama-se “Os Insuperáveis”.
Como um curioso de plantão, debruço-me sobre o velho para ler o que ele escreve. Não consigo ler muito, já que sou nada fluente em francês. Entendo mais de mim do que de galicismo. Entretanto, identifico alguns nomes bem conhecidos. Carl Lewis, Michael Phelps, Mark Spitz, Maria Lenk, Usain Bolt, Matt Biondi, Simone Biles, Torben Grael, Daiane dos Santos, Adhemar Ferreira da Silva, Jesse Owens… E um bocado de outros nomes. Esse panteão de ilustres atletas olímpicos só não é conhecido pelos miseráveis. Nomes imortais. Insuperáveis.
Despeço-me de Victor Hugo e, do outro lado do rio, escuto uma voz marcante. Canta saudosamente sobre seus vinte anos. Aznavour. Até a água do Rio parece vibrar diferente com o som que emana daquela fonte de emoção. Não me recordo de testemunhar homenagens póstumas mais belas do que ele recebeu em seu serviço fúnebre. Merecidíssimo.
Agora, os assentos estão lotados. Bandeiras brancas tremulam um pedido insistente de paz. A primeira delegação inicia seu desfile, deslizando-se pelas águas do rio que carrega história, paixão, romance e poesia. É o time francês que vem no primeiro barco, tendo à sua frente Joana D’Arc, empunhando seu estandarte. Escuto alguém gritar eufórico, enquanto a multidão volta os olhares para aquela figura. “Penso, logo existo!” É Descartes descartando toda a alegria existencial que saltita de seu interior.
A alguns metros dele, um casal assiste a tudo sorrindo e de braços dados. Os Curie, como dois curiózinhos curiosinhos e apaixonados.
Vejo ainda Rousseau, analisando aquela festa como parte de um contrato social.
Em meio a delegação francesa, testemunho a rica Maria Antonieta, que morreu pobre “de Marrais” e de esperança.
Alguém sorri enquanto descansa os olhos sobre uma tela que balança ao gingado do Sena. É Monet. E nem eu sabia que Monet sorria enquanto pintava… Devia estar pensando em sua Giverny.
Um sistema potente de som começa a tocar A Marselhesa. Ao término, a voz de Piaf emociona a multidão. Até a Torre Eiffel brilha ainda mais do que o brilho que só ela brilha… A arte recebe saudações da arquitetura.
Poderia ainda falar sobre outros e outras. Mas o texto ficaria enfadonho e talvez eu fosse alvo de julgamento. Prefiro encerrar por aqui.
Uma cerimônia linda, magistral, do jeitinho que Paris merece.
Perdoem-me se ousei antecipar. C’est fini. São as antecipações que dão aquela pitada onírica e floreiam de expectativa o que virá pela frente…
Que seja tudo belo como exige o belo!
La vie en rose.
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