A coluna

"Eu, servidor"

Eu, Luiz Fernando de Novaes Lancellotti, servidor da JT

Analista judiciário, do TRT de Campinas, Lancellotti é o primeiro personagem da coluna "Eu, servidor", que será publicada mensalmente no site da ANAJUSTRA Federal. No próximo dia 26/3, ele comemora 40 anos de ingresso na Justiça do Trabalho. São anos e anos de dedicação e doação ao serviço público, que merecem reconhecimento. Para ter sua história contada aqui, escreva para ascom@anajustrafederal.org.br.

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Prestes a completar 40 anos de ingresso na Justiça do Trabalho, Luiz Fernando de Novaes Lancellotti, 58, acompanhou de perto a grande transformação do Judiciário brasileiro nas últimas décadas. Na verdade, ele fez parte dela.

Após passar no concurso do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT2), em São Paulo, em março de 1982, foi lotado no Serviço de Preparação de Pagamento, onde as atividades ainda eram executadas de um jeito bastante diferente do atual.

"Não havia qualquer sistema informatizado. Todos os trabalhos eram feitos na máquina de escrever e na 'mão'. Os serviços de preparação de pagamento eram feitos em 'fichas' individuais, tratando-se de um trabalho administrativo de exames periódicos e alterações eventuais mensais para pagamento de salários a cada mês de servidores, juízes e juízes classistas", lembra o analista judiciário.



Após três anos, ele foi convidado a trabalhar na secretaria da 7ª Turma, onde atuou como substituto do secretário por sete anos. No cargo, era responsável pela preparação das pautas de julgamento, o que incluía preparar certidões de julgamento e providenciar a publicação dos acórdãos para ciência às partes envolvidas.

Na época, a falta de segurança e o trânsito da capital paulista o motivaram a pedir transferência para o TRT de Campinas, recém-criado. Ela aconteceu em 1993. "Fui transferido para Ribeirão Preto, desempenhando minha função na 1ª Junta, depois, fui assistente de cálculos por três anos (1995 a 1998)", relembra o servidor, destacando que esse é um trabalho minucioso.

"Como assistente de cálculos, o trabalho era de verificação de cálculos apresentados pelas partes e elaboração de despachos definindo eventuais equívocos para correção ou homologando os cálculos de uma das partes para início da fase de execução em caso de não pagamento. Cada processo traz assuntos e situações diversas e, portanto, há uma sentença diferente; então, cada cálculo faz referência exclusiva a seu processo e aos títulos definidos judicialmente como devidos", detalha.

Em 1998, Lancellotti foi nomeado diretor de secretaria, cargo exercido por 19 anos. Neste período, passou pela 1ª “Junta”, 1ª Vara, Vara de Cajuru e, depois, pela 5ª Vara de Ribeirão Preto. "Sempre convidado pelo juiz Marcos da Silva Pôrto, que acreditou no meu trabalho", ressalta o analista que ainda atua com o juiz

"O diretor de secretaria deve 'cuidar de tudo', seja trabalhando nos serviços vários que se apresentam, seja na administração dos trabalhos desenvolvidos por toda a equipe. Cabe a ele administrar o tempo e os serviços a serem executados dentro das possibilidades existentes e dos prazos que devem ser cumpridos. Há atendimento ao público, realização de audiências diárias, cumprimento dos despachos exarados pelo juiz, elaboração de documentos, decisões e administração das necessidades da equipe", explica ele ao enfatizar que o cargo exige extrema entrega.

Homeofficer

Antes, pilhas de processos na mesa e por toda a sala de trabalho. Agora, dezenas e dezenas deles estão no computador da casa do servidor. - Arquivo pessoal Antes, pilhas de processos na mesa e por toda a sala de trabalho. Agora, dezenas e dezenas deles estão no computador da casa do servidor. - Arquivo pessoal
Em 1982, quando se tornou servidor, se alguém dissesse para Lancellotti que um dia ele trabalharia de casa, talvez não acreditasse. No entanto, desde 2017, quando deixou de ser diretor de secretaria e passou a atuar como assistente do juiz Pôrto, ele desempenha suas funções remotamente.

Quando a pandemia da covid-19 chegou ao Brasil, obrigando os trabalhadores do Judiciário a se adaptarem ao "novo normal", ele já estava familiarizado com o home office e diz que o trabalho à distância não o fez perder o ânimo ou a dedicação. "Ele exige uma disciplina maior, mas as responsabilidades são as mesmas" e para executá-las, seja online ou presencialmente, é preciso "honestidade, entrega, cumplicidade, energia e, acima de tudo, vontade de trabalhar com afinco, orgulho e dedicação."

Lancellotti acredita que está melhor adaptado ao cenário atual porque aprendeu com erros do passado e porque já passou por diferentes cenários de trabalho. "No meu início, tudo era feito na máquina de escrever; não tinha computador nem aparelho celular."

Hoje, para desenvolver seu trabalho, ele está rodeado de tecnologia. E essa é uma realidade do Judiciário brasileiro que ano após ano vem adotando diferentes ferramentas informacionais e criando sistemas como o do Processo Judicial Eletrônico (PJe), que revolucionou os meios de se fazer justiça e, por consequência, modificou a rotina dos Tribunais, dos magistrados e dos servidores (até do jurisdicionado e seus advogados que agora podem participar de uma audiência em vídeo, por exemplo).

Atualmente, em sua mesa, ao invés de uma pilha de processos e uma máquina de escrever ao lado (quando os computadores ainda não faziam parte do dia a dia da justiça), Lancellotti tem três monitores de computador, além de livros, manuais e seus objetos pessoais. (Não pudemos deixar de notar o calendário da ANAJUSTRA Federal entre eles).

"Muito embora os tempos tenham mudado, o desempenho no trabalho exige as mesmas qualidades e características do primeiro dia e aí reside minha maior alegria, já que me sinto no meu primeiro dia de trabalho todos os dias. Isso, verdadeiramente, nunca mudou. Acho que é por isso que estou tão feliz em completar 40 anos de JT. Sinto que ninguém me conhece, mas tenho certeza que sou um servidor que faz sua parte e constrói, como vem construindo em todos esses anos, uma Justiça melhor."

Conheça um pouco dos números do TRT de Campinas, onde Lancellotti atua. Fonte: TRT15 - ANAJUSTRA Federal Conheça um pouco dos números do TRT de Campinas, onde Lancellotti atua. Fonte: TRT15 - ANAJUSTRA Federal


Boas memórias


Perguntamos quais histórias mais marcaram os 40 anos de trabalho de Lancellotti e ele nos contou uma emocionante e outra um tanto cômica. Confira.

"Quando eu ainda era diretor de secretaria na 5ª Vara do Trabalho de Ribeirão Preto, num determinado dia em que o juiz titular da Vara estava presente, despachando comigo, um reclamante foi ao balcão para procurá-lo para conversar e expor-lhe um problema. O juiz foi avisado por um servidor e, além da grande distância, como não havia acesso visual ao balcão da secretaria, o reclamante foi autorizado a entrar na secretaria e dirigir-se até minha mesa para falar com ele. Nossa surpresa e tristeza veio quando vimos o reclamante. Era uma pessoa com cerca de 50 anos, que não tinha pernas. Ele, obviamente, movimentava-se com grande dificuldade pelo chão e veio até a mesa e pediu para explicar a situação que lhe gerou tais problemas físicos, decorrentes de um acidente de trabalho na empresa que, posteriormente, o demitiu. Todos nós na secretaria ficamos chocados e a partir daquele dia, fomos monitorando o processo até saber que decisão fora tomada em sentença. Naturalmente, a torcida era geral e todos queriam que o reclamante visse reconhecidos todos os direitos postulados. Nada contra a empresa, mas todos ficaram 'tocados' com a situação física do reclamante. Ele venceu o processo, pois tinha todos os direitos mesmo; mas, claro, nenhum dinheiro no mundo foi e será suficiente para compensar essa situação. Mas a Justiça do Trabalho fez o seu papel."

"No Fórum de Ribeirão Preto, num dia normal de trabalho, um telefonema anônimo apontou a ameaça de uma bomba. Foi um grande tumulto. Todos evacuando o prédio. E o que nunca se esquece é que com mais de cem pessoas na porta do Fórum, um funcionário que estava no banheiro não foi avisado e permaneceu no prédio. Num determinado momento nós todos da porta do prédio vimos o servidor sair na janela e não entender nada do que estava acontecendo. Quando ele entendeu o ocorrido, saiu correndo para fora. Depois que tudo ficou bem apesar da gravidade da situação, todos demos risada do ocorrido, principalmente quando constatou-se tratar-se de um trote."

"Eu, servidor"

A coluna "Eu, servidor" trará, todos os meses, histórias de quem atua no Judiciário Federal e ajuda, de todas as formas, na boa prestação jurisdicional dos Tribunais em cada canto do país.

Antigos e novos servidores, com grandes projetos criados ou com apenas alguns bons causos sobre o ato de "servir" para contar.

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Escreva para ascom@anajustrafederal.org.br e vamos bater um papo!