Poesia e arte

23/10/2020 11:52

Lairte Oliveira Souza, do TRE5, divide o tempo para cuidar do corpo e criar.

Durante a infância e adolescência, a associada Lairte Souza, do TRE da Bahia, gostava de ler quadrinhos da Turma da Mônica, romances brasileiros e dedicava-se aos desenhos e pinturas feitos na escola. A maior inspiração, no entanto, vinha de sua mãe e seu modo de ver o mundo. “Minha mãe, pessoa simples, de muita sensibilidade, sempre foi atenta aos detalhes. Parava para para olhar o belo da natureza e me mostrava.”

Além de apreciar a beleza das coisas, Lairte decidiu aprender como criar e graduou-se em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Apesar da afinidade com a área, ela explica que desligou-se das artes por um tempo. No entanto, o reencontro com diversas formas de expressão ocorreu durante a pandemia. 

“Durante a pandemia foi muito estranho, um sentimento de fim de mundo. Já estava escrevendo, tentando aproveitar os últimos momentos de uma vida que passava quase inerte. Incorporei os alongamentos diários que são uma benção para minha coluna e bem estar”, diz Lairte.

Ela também explica que a mudança na rotina trouxe mais energia para organizar os textos, criar um blog e pintar algumas ilustrações em aquarela. E também colocar em prática um novo projeto: “O hábito de separar um tempo para a escrita, com objetivo de reunir poesias e publicar um livro físico, em breve, com ilustrações minhas”.

Poemas recentes

O reencontro com as artes plásticas também revelou a necessidade de se expressar de outra maneira: “Comecei a escrever memórias e reflexões em meu caderno de cabeceira, alguns poemas, estes bem recentes”, explica.

Para escrever ou pintar, é preciso encontrar o momento e o lugar propício, como Lairte explica: “Preciso estar bem para escrever, refletir, em meu canto. Outras vezes, a escrita vem de um mal estar, algum sentimento que mexeu comigo, coloco-o no papel, como um consolo, uma necessidade de extravasar, de libertar o que incomoda. Pintar só se eu estiver em paz mesmo”.

Acompanhe a jornada criativa de Lairte Souza pelo blog “Poesia e Arte” (https://lairtepoesiaearte.blogspot.com/) e leia abaixo dois poemas finalizados recentemente pela artista.

Dou-te a Minha Liberdade

Conduza-me, decida por mim
Estou cansada de tanta autonomia
Dou-te a minha liberdade de escolha
Não me incomoda mais a submissão
Usei intensamente, exaustivamente todas essas prerrogativas de ser uma mulher 
moderna
Não é para mim
Quero ficar, apenas, com a melhor parte
Encontrar tudo feito e decidido, comprado e resolvido
Não me tortures com tanta liberdade, tanta leveza, porque me perco, desespero-me
Em troca, peço-te somente, que me envolva em teus braços
Não me soltes nunca mais.

Lairte, Serrinha (BA), 2020.

Engodo

Pó na face, como uma máscara teatral.
Cabelos dourados, tênis e boné – o disfarce perfeito
E os seus órgãos gritando, clamando serem auscultados!
Irritabilidade, fisioterapias mil
Dorme uma, acorda outra: neurônios arrumando as malas para partir mais uma vez.
Levanta-se tropeçando, cambaleante, vistas embaçadas
Numa catarse, sonha destruindo tudo que a aprisiona
INSS em pânico, Hospitais cheios, cheios de mulheres jovens e bonitas: cedo demais para suas aposentadorias!

Lairte, Serrinha (BA), 2020.

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