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Daniela e seu companheiro Basher Foto: Moisés Vieira Júnior |
Andar pelas ruas das cidades parece ser corriqueiro, mas para quem possui uma necessidade especial não é bem assim. Ir para o trabalho ou qualquer outro lugar se transforma em um desafio para quem não enxerga. Sem contar com a ajuda de alguém, andar de metrô é algo praticamente impossível. Carros estacionados nas calçadas, buracos, falta de semáforos em travessias, falta de estrutura e sinalização. Para quem precisa de cuidado especial, tudo isso transforma uma simples saída em uma aventura nada agradável.
No imaginário da maioria das pessoas, a cegueira ou deficiência visual é algo distante e incomum. Mas, segundo dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), essa premissa não é verdadeira. No mundo existem 50 milhões de cegos e no Brasil são cerca de 1,4 milhões. Ainda de acordo com o CBO, 90% dos casos de cegueira ocorrem nas áreas pobres do mundo, sendo que 60% são evitáveis e em 20% deles a visão pode ser recuperada.
As dificuldades transpõem as barreiras físicas. Além de tudo isso, os deficientes visuais enfrentam preconceito e falta de apoio governamental. Daniela Kovacs, Marcos Leandro e Daniel Sisti, servidores da Justiça do Trabalho, já enfrentaram muitos desafios como esses, mas hoje convivem com a deficiência visual de maneira mais tranquila. Além de conquistarem um lugar no serviço público, eles possuem a ajuda de um cão-guia para a locomoção no dia a dia tão complicado que enfrentam.
Conseguiram esse facilitador, o cão-guia, por meio do Projeto Cão-Guia desenvolvido pelo Instituto IRIS de Responsabilidade e Inclusão Social. Fundado em 2002 por Tahys Martinez, que também é deficiente visual, e Moisés Vieira Júnior, o IRIS é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que trabalha em parceria com algumas instituições como a ONG, Leader Dogs for the Blind, dos Estados Unidos. O vice-diretor do Instituto, Moisés Vieira Júnior, explica que o “IRIS é voltado a ações que promovam a melhoria de qualidade de vida de pessoas com deficiência. A prioridade institucional é o treinamento de cães-guia para pessoas com deficiência visual com atuação em todo o Brasil”. Vinte e quatro dos cerca de 60 cães -guia em atividade no país são resultado do trabalho conjunto do IRIS e da entidade americana, que é responsável pelo treinamento dos animais.
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O instituto precisa de colaboradores dispostos a ajudar nos custos e que queiram cuidar do cão durante um ano. Cerca de 2 mil pessoas no Brasil estão na fila para receber um cão. ____________________ |
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Foto: SXC |
Inúmeras pessoas não sabem da existência de uma lei que assegura o direito ao deficiente visual transitar com seu cão-guia em qualquer lugar. É a Lei nº 11.126 de junho de 2005. Em seu primeiro artigo estabelece: “É assegurado à pessoa portadora de deficiência visual usuária de cão-guia o direito de ingressar e permanecer com o animal nos veículos e nos estabelecimentos públicos e privados de uso coletivo”. Ainda de acordo com a lei, constitui discriminação a ser aplicada multa, qualquer manifestação contrária a transitação do cão-guia pelos locais públicos.
O outro lado
Silvio Lemos também é servidor da Justiça do Trabalho, está inscrito no Instituto IRIS a cerca de um ano e aguarda o recebimento do cão-guia. Lotado no TRT de Mato Grosso do Sul, no setor de atermação, ele conta que apesar dos pequenos obstáculos do dia a dia, o deficiente visual consegue viver com certa independência graças aos recursos tecnológicos disponíveis hoje. Programas de computadores que leem a tela e sintetizam a voz, celulares, relógios e calculadoras que “falam” fazem parte de sua vida.
“A maior dificuldade enfrentada é a falta de sensibilidade e incompetência das autoridades, que não colocam em prática as políticas públicas de acessibilidade. Grande parte das ações ainda fica somente no papel, o que é lamentável”, diz.
Ele conta com a ajuda da esposa, familiares e amigos sempre que preciso, principalmente para deslocamento em ambientes desconhecidos. “Mas em locais onde estou acostumado, como no prédio do Tribunal ou no condomínio onde moro, ando sozinho e sem bengala, pois já me adaptei bem a esses espaços físicos”.
Serviço: Instituto Íris de Responsabilidade e Inclusão Social . Site: www.iris.org.br / E-mail: iris@iris.org.br